21 de ago. de 2015

O Jogo Político nos Tempos de Jesus na Palestina - Noções do Código Moral e Ético do Cristo nos Dias Atuais na Política do Brasil

Jesus histórico e a política nos tempos da palestina


Os dois textos anteriores que servem como base para os temas que serão abordados aqui, a política nos tempos de Jesus e o Jesus histórico, podem ser lidos no seguinte link: AQUI 

O capítulo 12 do livro “A Bíblia no 3º Milênio” aborda em detalhes, ao longo de quase 70 páginas, toda a vida do Jesus Histórico. Quem quiser o pdf com esse capítulo, basta enviar um email para profecias2036@gmail.com que eu envio gratuitamente este pdf do livro. Vamos então compreender um pouco do contexto político e religioso da Palestina nos tempos de Jesus:

Jesus viveu em uma época que a Palestina (nome dado pelos romanos a região que corresponde hoje à Israel) não apenas sofria com a opressão dos romanos sobre o povo hebreu, como também uma clara divisão entre dois grandes grupos religiosos.

O grupo do Sinédrio era conhecido pela autoridade romana como a autoridade religiosa dos hebreus e era composto por fariseus e saduceus, nome dado às duas classes sociais mais proeminentes e ricas no seio do povo hebreu. Entretanto, havia um outro grupo, que não era reconhecido pela autoridade romana e nem pelo Sinédrio, que era o grupo dos Essênios ou Essayas, grupo religioso que atuava em algumas localidades, em especial no rio Jordão, próximo a Qumran, local que João Batista, primo de Jesus, realizava batismos.

Se o Sinédrio possuía seu Sumo Sacerdote, os Essênios possuíam o seu Mestre da Justiça, cargo que Jesus assumiu ao ser batizado por João Batista, quando se tornou Jesus Cristo (Christo, que significa ungido, exatamente por ter sido consagrado como o Mestre da Justiça dos Essênios). Tal informação é confirmada na Bíblia em Hebreus 6:20 ao informar que Jesus é o Sumo Sacerdote Eterno da ordem Melquisedec, enquanto que nos manuscritos do Mar Morto (manuscrito 11Q13) afirma que o ungido é o rei Melquisedec dos Essênios.

Os Essênios contavam com o apoio das classes mais humildes, entre elas os ebionitas (ebionim = pobres) e os zelotes (ou zeladores) que era o grupo mais radical na luta pela independência da Palestina em relação ao domínio romano e que quase 30 anos após a crucificação de Jesus organizaram um grande enfrentamento contra os romanos na batalha de Massada. Essa parcela mais humilde da população hebraica enxergava Jesus como um líder revolucionário que viria libertar a Palestina do jugo romano. Entretanto, o reino que Jesus desejava implantar era de natureza espiritual.

Naquela época existia a escola rabínica de Hillel e a escola rabínica de Shamai, ambas formavam os doutores da lei (rabis) que poderiam pregar nas sinagogas. A maioria dos fariseus era formada na escola de Shamai (legalistas) enquanto que Jesus formou-se na escola de Hillel, tanto que Jesus pregava dentro das sinagogas, algo que somente um rabi legítimo poderia fazer.

Jesus era, portanto, um rabi legitimamente formado em uma escola rabínica e mais ainda, era o Sumo Sacerdote (Mestre da Justiça) dos Essênios, a corrente religiosa majoritária entre os hebreus mais humildes e que não aceitava o Sinédrio como o representante religioso dos hebreus, exatamente por concentrar apenas a casta mais abastada financeiramente e socialmente falando da Palestina.

A luta de Jesus não era pessoal contra os fariseus, tanto que ele possuía amizade ou pelo menos um contato amigável com dois fariseus segundo os relatos bíblicos (Nicodemos e José de Arimatéia), a luta de Jesus era em verdade contra a estrutura mercantilista do Sinédrio, transformando a religião dos hebreus em um grande jogo de política para fortalecer o poder das classes mais abastadas financeiramente e socialmente e assim exercer poder sobre as classes mais humildes. Seria, como nos dias de hoje, se um político legitimamente eleito, condenasse a ação de um governo que estivesse utilizando o poder social e econômico em benefício próprio, em detrimento do povo, e ao mesmo tempo estivesse (o governo) utilizando um discurso de justiça e cumprimento das leis, quando o próprio governo não estivesse cumprindo para si o discurso que pregava. A condenação de Jesus a hipocrisia de tal classe religiosa e política (Sinédrio) no famoso sermão aos fariseus (Mateus 23:1-39 e Lucas 11:37-54) é a mesma condenação que seria feita a classe política que prega "justiça social" ou uma "sociedade mais justa e fraterna" mas que não abre mão de uma única vírgula de suas regalias e benefícios materiais muito acima daquilo que defendem como justo para a sociedade. Essa é a essência da crítica de Jesus a política da sua época.  

Quando Jesus fez seus longos sermões contra os fariseus, condenando o materialismo e a vaidade destes ele não estava na posição do homem que ensinava o Evangelho de amor, mansuetude e fraternidade, mas sim na posição de um líder espiritual e político, legitimamente eleito por uma parcela expressiva dos hebreus, pois além de Rabi era o Supremo Sacerdote dos Essênios. Era essa autoridade moral, mas sobretudo política e legítima, que o autorizava a condenar a postura dos doutores da lei de forma tão veemente. 

Considerando isso é um erro imaginar um Jesus “guerreiro” ou “justiceiro”, pois estas não eram características do Messias, mas sim a postura que era exigida de um líder político e espiritual de parte expressiva do povo hebreu e que condenava, na posição de líder político e espiritual, a postura do grupo (Sinédrio) que não exercia de forma adequada a representação religiosa do povo hebraico. 

Dessa forma podemos compreender como o Jesus que ensinava o amor, a mansuetude e a fraternidade, pôde agir de forma tão veemente contra os fariseus, pois não agiu nesses casos na condição pessoal, de homem, mas sim na condição de um político legitimamente constituído e que tinha autoridade constituída para representar parcela expressiva da população hebraica, sobretudo a mais humilde. Devemos compreender isso para que não nos arvoremos em tentar justificar uma atitude guerreira, agressiva ou condenatória com base nessas passagens bíblicas as quais Jesus condena os fariseus, pois elas não foram feitas em um contexto pessoal e sim em um contexto político, por ele ser um líder político legitimamente constituído condenando outros líderes políticos legitimamente constituídos

A luta pessoal de Jesus era na verdade mostrar a toda população da Palestina que existia apenas um único Deus, acima do Sinédrio e do Império Romano, um Deus misericordioso, justo e espiritual, pelo qual valia à pena lutar, não uma luta armada ou bélica, mas uma perseverança na fé e na prática do amor ao próximo, por isso o exemplo de Jesus que ao invés de organizar um levante pela independência do povo da Palestina contra o Império Romano (e poderia ter feito isso, pois era visto como um líder) preferiu aceitar a crucificação e mostrar a vida após a morte quando se materializou por 40 dias após seu desencarne, pois sabia no seu íntimo as perseguições e guerras que a humanidade vivenciaria ainda por longos séculos após sua vinda a Terra, sabia que a verdadeira resistência era a fé e a certeza na vida após a morte, a certeza que somente a prática do Evangelho (a paz, a mansuetude, a humildade, a caridade e a fraternidade) poderiam livrar o homem das correntes kármicas seculares do ódio e da vingança. Sabia como disse no Evangelho, que os escândalos deveriam vir, mas ai daquele que trouxesse os escândalos (pois haveria de responder pela violência que praticasse).

Vale ainda relembrar a essência pacífica de Jesus:

"porque eu sou manso e humilde de coração" (Mateus 11:29)

"Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor". (João 15:10)

Além disso, vale lembrar o Sermão da Montanha (Mateus capítulo 5) no qual Jesus descreve toda a lei (como por exemplo, ser misericordioso, amar os inimigos, entre outras coisas que ele próprio como disse, também guardou e praticou)

Essa era a essência de Jesus, que em nada se coaduna com um homem agressivo que atacasse pessoalmente seus adversários. Nos episódios dos mercadores do templo e no sermão contra a hipocrisia dos fariseus, dois episódios que aparentemente contradizem essa índole pacífica do Messias, ele estava em verdade, falando como o líder dos essênios, combatendo as práticas religiosas e políticas dos fariseus e do Sinédrio e não em um confronto pessoal contra esses e em hipótese alguma por vaidade pessoal ou qualquer conotação de agressividade.

Além disso, há um outro motivo, explicado no capítulo sobre o "Jesus Histórico" da Bíblia no 3º Milênio: o Messias sabia que tinha pouco tempo de vida, seu corpo carnal não suportaria muito mais tempo e exatamente por isso ele precisava de um pretexto para ser preso e crucificado antes que o seu próprio corpo físico sucumbisse, pois somente com o exemplo da doação da sua vida pelo gênero humano e sua ressurreição, mostrando a realidade da vida após a morte é que ele poderia concluir sua missão.

Jesus, como bem alertou no Sermão Profético e no Apocalipse, sabia que a humanidade terrena, de expiação e provas, ainda vivenciaria 20 longos séculos de provações e expiações, guerras e lutas e justamente por saber disso, trouxe o exemplo à humanidade de não perder a fé mesmo diante de um grande sacrifício (sua própria crucificação ou ainda os cristãos perseguidos pelos romanos), de manter a fé em uma vida espiritual além do físico (sua ressurreição materializado em corpo glorioso) e, sobretudo manter a fé na prática da caridade, da mansuetude e da fraternidade (a cada um segundo suas obras). Jesus veio nos preparar para a guerra espiritual, mas não uma guerra de agressões ou violência, mas o bom combate que tem por objetivo o crescimento espiritual e a difusão do bem sobre o mal, ou de forma mais clara, aquilo que é correto sobre aquilo que é errado.

O bom combate, lutando pela purificação de instituições, identificando os valores e ações equivocadas, transformando comportamentos equivocados em comportamento positivos, o amor que busca educar ao invés de simplesmente condenar.

O correto e o errado independem de partido ou posição política, está na verdade acima de qualquer preferência político-partidária ou qualquer simpatia por determinado político. Aquilo que é correto é uma noção moral e ética e independente das preferências político-partidárias de uma pessoa, ela precisa ter maturidade para reconhecer quando, mesmo um partido ou um político com o qual simpatiza, está agindo de forma errada, pois do contrário estará colocando um partido ou um político acima do código moral e ético que deve pautar todos os políticos e partidos. Um exemplo claro e simples:

É correto um político prometer várias promessas em uma campanha e poucos meses depois fazer totalmente o contrário daquilo que prometeu em mais de uma dezena dessas promessas?

É correto um político ou um partido exaltarem regimes notadamente ditatoriais de outras nações?

É correto em uma campanha um político iniciar (ser ele a começar) ataques pessoais contra a moral do seu adversário ao invés de debater propostas?

É correto um político apoiar, se omitir ou não mostrar claro repúdio à discursos que incitem atos de violência com armas contra pessoas desarmadas?  

É correto um político não aceitar cumprir leis constituídas na Constituição?

É correto um partido manter em seus quadros um político condenado pela Justiça em última instância?

Uma noção mínima de moral e ética impede que qualquer pessoa de bom senso diga "sim" a qualquer uma das perguntas colocadas acima, independente de suas preferências por determinado partido ou determinado político.


Se desejamos estabelecer a Pátria do Evangelho aqui no Brasil, relembrando os ensinamentos no Evangelho do Jesus histórico, e colaborarmos com transformações positivas na política (acima de partidarismos ou políticos) precisamos reconhecer o correto e o errado, acima de qualquer paixão partidária ou preferência política. Que cada um possa refletir sobre as perguntas acima e identificar que tipo de político ou partido deseja para o Brasil. 

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3 comentários:

Luiz Pereira disse...

Ótimo texto, muito esclarecedor. Apenas gostaria de saberse os fariseus do Sinédrio não representavam um poder religioso semelhante aos líderes religiosos atuais? O poder político não cabia aos prepostos do imperador romano Tibério e ao rei Herodes?

José Alencastro disse...

Olá Luiz

Na época da Palestina tínhamos duas grandes lideranças religiosas, como mencionado no texto: o Sinédrio e os Essênios. O Sinédrio era a autoridade religiosa que Roma reconhecia como a representante dos judeus e que funcionava como uma autoridade política junto ao povo hebreu, sendo formado por líderes religiosos de grande poder social e econômico, a nata financeira da sociedade judaica. Roma tinha os poderes executivos e o Sinédrio exercia o poder juridico e legislativo, subordinado a autoridade romana mas com certa liberdade de atuação e sobretudo com poder de atuação, alinhado com os interesses romanos na região.

Luiz Pereira disse...

Agradecido! Sempre competente e atencioso. Mencionei os líderes religiosos atuais, porque enquanto muito se debate sobre o nosso executivo, assistimos uma escalada de grupos religiosos pentescotais no legislativo. Coincidência ou não exercem pressão nos outros poderes, em especial fortalecendo ligações no judiciário. Mesmo sendo cristãos alguns pastores começam adotar "vestimentas" semelhantes aos sacerdotes do Sinédrio. Não é dificil encontrar analistas apontando para uma ameaça concreta de dixar-mos de ser um Estado laico.