Parte II: AQUI
Continuando: Com 1 hora e 41 minutos de palestra, o palestrante apresenta um mosaico tendo como título “Antigas Representações de Nibiru”.
No canto inferior direito vemos uma esfera vermelha computadorizada, ou seja, uma representação que de antiga não tem nada, mas tudo bem. Vou primeiro explicar o símbolo do suposto Sol com 11 corpos celestes próximos, totalizando assim uma figura com 12 corpos celestes.
Alguém ao olhar essa figura disse que ali estava representado Nibiru (supostamente o círculo no canto superior esquerdo ao suposto Sol). Mas vejamos, se os sumérios conseguiram observar astronomicamente até Plutão, porque colocariam os planetas fora de qualquer escala de comparação e fora de qualquer órbita? Se aquilo fosse a órbita do sistema solar, vários planetas já teriam se chocado faz tempo na eclíptica.
O que podemos ver na verdade é uma representação sim de 12 corpos celestes. Foi exatamente na Mesopotâmia que a Astrologia foi desenvolvida, era uma ciência, tanto que o mapa astrológico mais antigo que se tem conhecimento é do rei babilônico Sargão I de 2.350 A .C.
Foram os sumérios que criaram a divisão do ano em 12 meses lunares, bem como do dia em 12 horas – duplas e na divisão dos 12 signos astrológicos. Essa é a simples menção no desenho do Sol, dentro de uma estrela e com 11 corpos celestes orbitando a sua volta de forma desordenada. Tão somente isso.
A partir dessa representação, os egípcios desenvolveram uma representação própria desse símbolo sumério, o adaptando aos seus conhecimentos de astrologia e também as divindades as quais cultuavam. Os egípcios acreditavam na vida após a morte e tinham símbolos muito fortes para o renascimento, uma nova vida: a fênix e o escaravelho sagrado.
Da mesma forma, na entrada dos seus templos, era comum se observar, talhada na pedra, o símbolo de Horbehutet, um simples disco com duas grandes asas, ou seja, o disco alado, a divindade solar que acompanha o Deus Rá na sua travessia diária pelo Egito. É um guardião que simboliza a proteção espiritual do templo. Da mesma forma o escaravelho sagrado (Khepra) também simboliza essa divindade solar, pois simbolicamente é o escaravelho com asas movendo um disco (Sol). Comparem os dois símbolos e veja como são parecidos entre si:
Ambos representam divindades egípcias ligadas ao Sol. Têm elas, no entanto, uma origem mais antiga, exatamente na história da fênix, que na mitologia ao sentir a morte se aproximar, voava para a pira do Deus Rá em Heliópolis ( a cidade do Sol) e nessa pira deixava se consumir pelo fogo para então renascer.
Segundo os egípcios, em suas garras ela poderia levar cargas imensas. Ou seja, ela é mais uma representação da busca pela divindade (Deus- Sol) através do renascimento, reencarnação.
Mas a origem comum de todas essas simbologias está em Hórus, o Falcão Celeste, simbolizado também por uma ave, que no topo da sua cabeça tem o disco solar e nas suas garras duas esferas de metal, que são o símbolo da mineração do Egito, pois nas grandes construções necessitavam trazer de longe as grandes pedras, simbolicamente pelas “asas” da fênix ou Hórus. Isso se explica porque nas primeiras dinastias, Hórus foi a divindade que representava o trabalho de forjar metais, tanto que nos primeiros templos erguidos nas primeiras dinastias se encontrou um hieróglifo com os seguintes dizeres: “Quando as fundações forem reveladas, o disco se erguerá”. Ou seja, o símbolo inicial de proteção dos egípcios, muito anterior ao escaravelho, Horbehutet ou até mesmo da fênix, foi Hórus.
Essas duas pedras nas garras de Hórus foram metamorfoseadas no símbolo de Horbehutet em duas serpentes, que segundo alguns egiptólogos representam o “alto e baixo Egito” mas na verdade são apenas o alimento simbolicamente caçado pelo falcão ou numa outra linguagem “elevado aos céus” pelo falcão celeste ao Deus-Sol.
Interessante notar que ao longo das dinastias, a figura de Hórus se funde com Rá, surgindo então o wedjat ou simplesmente o olho de Hórus. Se compararmos essa fusão com a descrição de Horbehutet que seria um disco alado acompanhando constantemente Rá, fica fácil compreender como essas duas divindades acabaram por ser fusionadas.
Hórus na mitologia é filho de Isis que assumiu na mitologia egípcia muitos dos papéis da deusa Hathor, sendo representada com dois chifres de vaca na cabeça e sobre ela um disco solar. Era a deusa da fertilidade, das mulheres na hora do parto e também dos homens que trabalhavam nas minas com mineração. Uma de suas representações mais comuns é exatamente a Isis alada, tal como seu filho mitológico, o falcão celeste Hórus:
Mas afinal o que isso tudo tem haver com Nibiru? Toda essa explicação mostra que o disco solar não tem nada haver com Nibiru ou qualquer outro planeta que venha em “duas asas” sobre a Terra. Entretanto, é possível que os sumérios tenham representando um segundo sol? Espantosamente a resposta é sim.
Isso se explica da seguinte forma: nas clássicas apresentações da fênix ela sempre aparece ao lado de uma estrela denominada pelos egípcios de spodet, nome dado por eles a Sírius, que eles representavam como uma estrela vermelha.
Essa estrela era a base do calendário egípcio, ou seja, um novo ano começava no Egito quando Sirius tornava-se visível no horizonte imediatamente antes do nascer do Sol , estando suficientemente afastado do Sol pra não ser ofuscada pelo brilho solar, evento que ocorria após uma ausência de 70 dias no céu , prenunciando assim as cheias do Nilo. Sirius era naquela época associada à Isis, a suprema Deusa do céu egípcio.
Portanto, se os egípcios quiseram representar algum corpo celeste, planeta ou Sol certamente não foi Nibiru, mas sim Sirius.
Mais interessante ainda é pegarmos a figura suméria apresentada na palestra que mostra uma grande estrela (supostamente o Sol) dentro de uma estrela de 6 pontas ou seja, um hexágono.
“Coincidentemente”, Sirius faz parte do chamado Hexágono do Inverno, visível no hemisfério norte de dezembro até março e facilmente observada pela grande magnitude de brilho das estrelas que compõe esse Hexágono e adivinhem só qual estrela faz parte desse grupo: Sirius, Rigel, Aldebaran, Pollux, Procyon e.....Capella.
Da mesma forma as 6 estrelas do Hexágono de Inverno são partes de seis grandes constelações do céu: Orion, Taurus, Auriga, Gemini, Canis Minor e Canis Major. O interessante é que dentro desse Hexágono está Betelgeuse, uma estrela vermelha supergigante com diâmetro 500 vezes maior que o Sol.
Se os sumérios viram alguma coisa no céu e quiseram representar certamente não foi Nibiru, mas sim o hexágono em forma de estrela, tendo Betelgeuse no centro. Alguns astrônomos acreditam que nos próximos mil anos essa gigante vermelha poderá sofrer uma explosão tipo supernova II, o que aumentaria seu brilho de tamanha forma que seria visível por meses no céu da Terra como uma pequena Lua cheia brilhante por meses e após esse período desapareceria. Se isso acontecer nos próximos anos, então teremos teoricamente dois sóis visíveis no céu, mas sem qualquer ameaça apocalíptica de Nibiru ou 2012.
Mas vamos continuar as análises: lá em 1hora e 50 minutos de vídeo, o palestrante afirma ter encontrado, utilizando o Google Sky, o suposto Nibiru atrás do Elenin, utilizando a ferramenta de infravermelho disponível no site Google Sky, algo estranho, próximo a constelação de leão.
Bom, pra começar, o Google Sky não é um telescópio, mas tão somente um programa que processa imagens vindas do telescópio Sloan Digital Sky Survey e justamente por um erro de processamento apareceu a famosa mancha retangular preta perto de Órion (que foi logo vista pelo teóricos da conspiração como uma censura). Se a Google quisesse esconder algo, certamente colocaria ali uma imagem qualquer do céu, apagaria a verdadeira imagem e não simplesmente faria uma mega gambiarra que chamasse a atenção de todo mundo. Outra prova de que a Google não esta escondendo nada é que na mesma região onde existia o bug de processamento do telescópio ótico SDSS, é possível ver claramente as imagens processadas do infravermelho vindas do IRAS e as imagens processadas advindas do telescópio de microondas WMAP como vemos na foto abaixo.
Mas e aquela imagem que o palestrante mostrou como sendo Nibiru perto da órbita de Saturno?
A imagem em infravermelho é de um objeto conhecido pelos astrônomos, é o Quasar PGC 1427054, que aparece com essa pitoresca aparência quando visto em infravermelho, tão somente, nada de Nibiru , Marduk ou companhia. Quem quiser saber mais entre no site desse astrônomo: AQUI
Mas temos ainda mais um problema. Segundo o que o próprio palestrante mostra sobre a órbita de Nibiru em 1hora e 42 minutos de vídeo, e também aceito por praticamente todos os entusiastas da teoria da existência desse orbe, Nibiru possuiria uma órbita elíptica que vem por debaixo da eclíptica (plano rotacional onde orbitam os planetas ao redor do Sol) para então descer num ângulo de aproximadamente 33 graus. A figura mostrada pelo palestrante, que consta abaixo e no vídeo, deixa isso bem claro:
Mas na mesma palestra, com poucos minutos de diferença, ele expõe que o cometa Elenin vem a apenas 1 grau de inclinação da eclíptica (1 hora, 29 minutos e 40 segundos de palestra), ou seja, Elenin está alinhado, segundo ele, paralelamente na eclíptica com pequenas variações, enquanto que o suposto Nibiru viria de forma perpendicular, “cortando” a eclíptica como já mostrado na figura acima.
Então como que Nibiru pode vir atrás de Elenin, seguindo o pequeno cometa??? Com 1hora e 47 minutos de palestra, é dito exatamente isso, que Nibiru vem atrás de Elenin, o que seria impossível mesmo que Nibiru existisse, pois ele vem , segundo a teoria conspiratória dos seus defensores, de forma perpendicular, enquanto Elenin de forma paralela a eclíptica.
Outro problema na explicação sobre Nibiru, é que após confundir o quasar PGC com Nibiru, foi dito na palestra que ele estava nas imediações de Saturno. Mas praticamente uma hora depois (2 horas e 37 minutos de palestra), o palestrante cita uma reportagem da CNN, que afirma que o tal planeta desconhecido (Nibiru) está além de Plutão, ou seja, numa órbita muito distante de Saturno. São incongruências facilmente percebidas que demonstram não existir qualquer indício ou prova factível da existência desse suposto orbe intruso.
Pra piorar a situação, a tal reportagem não cita qualquer fonte, apenas fala de uma matéria que foi divulgada no jornal inglês “The Guardian”, que não cita qualquer astrônomo, observatório de qualquer país, mas fala tão somente em “cientistas independentes”. Imagens, indicações de onde procurar no céu, nomes de astrônomos, nada disso foi veiculado na reportagem do jornal, dando a entender que se tratava apenas de sensacionalismo pra ir “na onda”, naquela época, do burburinho causado pelo Elenin em meados de 2011, tão somente.
Noticiar algo seja o meio de comunicação conhecido ou não, não quer dizer que a notícia é verdadeira (novamente me lembro da falácia conclusiva), afinal basta relembrar as notícias sobre os “atentados terroristas” de 11 de setembro ou a morte de Bin Laden, não é porque isso foi divulgado numa CNN que necessariamente vai ser verdade.
Segue na parte IV, que será publicada quarta feira, 21 de março, as 22:14
Comentário Parte IV: AQUI
Um comentário:
gostei do tópico, vou começar a seguir esse blog..ADOREI ! ;d
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