4 de out. de 2022

Qual o Futuro do Brasil se Um ou Outro for Eleito

 

Nas previsões para setembro e outubro eu trouxe uma coletânea das previsões para o futuro próximo do Brasil, tanto no período das eleições até o final do ano (entre outubro e dezembro) como nos próximos anos, entre 2023 e 2026, compilando informações de textos trazidos em 11 de julho e 19 de agosto. Aconselho fortemente que o leitor desse post releia essas informações para compreender o que será descrito nesse post. 

Texto sobre o Brasil (confusão pré e pós eleições) publicado ao final do post com as previsões de setembro e outubro:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=678684506948187


Texto publicado em agosto sobre os próximos anos do Brasil e a previsão feita anos atrás sobre a Argentina:

https://profeciasoapiceem2036.blogspot.com/2022/08/o-brasil-de-amanha-sera-argentina-de.html


Daquele texto publicado em agosto destaco o trecho final: 

"Seja com a vitória do ex presidiário nas urnas ou com as eleições meladas por algum golpe (que tente adiar as eleições ou dar continuidade ao atual mandato) o cenário econômico mostrado no mapa do Brasil não mostra um futuro tenebroso nos próximos 4 anos mas também não mostra qualquer recuperação pujante (como no período do boom das comodities para a China) sendo algo mais próximo a continuidade do atual cenário (inflação ainda persistente, descontrole fiscal, baixo crescimento econômico e alto desemprego) assim como mostra a continuidade e agravamento da polarização política entre petistas e bolsonaristas que vai desembocar em um acúmulo de tensos para 2026, um acúmulo que eu espero que definitivamente faça o povo acordar da polarização através de uma nova alternativa política pois caso contrário (se ainda tivermos alguma democracia) ela correrá ainda mais risco." 

Analisando o mapa ruim de Bolsonaro durante as eleições e ao mesmo tempo um forte trânsito de rupturas sobre o mapa natal do Brasil a chance de eleição de Bolsonaro nas urnas parece remota pois essas posições combinadas apontam muito mais para alguém derrotado, ainda que com uma força politica relevante buscando uma tentativa de contestação do resultado das urnas (algo ainda mais intenso do que aconteceu na derrota de Trump) até porque em caso de vitória nas urnas Bolsonaro não precisaria ativar um golpe clássico mas sim algo mais gradual como Chavez fez na Venezuela (e explicarei isso ao longo desse post), portanto pelo desenho do mapa tanto de Bolsonaro como do mapa natal do Brasil é remota a chance de uma eleição nas urnas de Bolsonaro, o que não inviabiliza a tentativa de uma forte contestação e convulsão social como descrevi também no texto de agosto: 

"Outro ponto relevante é que no mapa do Brasil sempre que a casa 12 (exílio, fim de ciclo) é fortemente ativada com a entrada de Saturno em trânsito na casa 01 do Brasil grandes rupturas inesperadas acontecem (isso aconteceu em 1964 e depois ao final de 1992 no primeiro impeachment). Ao final de 1992 no impeachment de Collor, Saturno estava entrando na casa 01 do Brasil ao mesmo tempo que Urano e Netuno conjuntos adentravam a casa 12. 

Na época das eleições teremos não apenas Plutão em trânsito na casa 12 do Brasil como Saturno entrando na casa 01 do Brasil em fortíssima quadratura com Urano em trânsito (que não apenas estará quadraturando com o Ascendente do Brasil como também com o topo do mapa/Meio Céu do Brasil) e ao mesmo tempo Júpiter em trânsito entrando em Áries estará ativando a enorme quadratura natal do mapa do Brasil (Plutão natal quadraturando com Urano e Netuno natais do Brasil). É um bombardeio típico de rupturas profundas, seja por morte, atentado violento, golpe de Estado ou adiamento de eleições, uma combinação que nos meus estudos eu nunca vi no mapa do Brasil. 

Esse fortalecimento do Sol natal de Bolsonaro, especialmente entre 2024 e 2025 por conta do trânsito de Urano e Plutão é característico de um amplo fortalecimento da imagem (Sol) de Bolsonaro o que no contexto atual só aconteceria de duas formas: ele virar mártir por conta de morte nas eleições ou um golpe de Estado para evitar eleições e postergar o atual governo." (texto publicado dia 19 de agosto, linkado no início desse post) 

Considerando que ainda permaneceremos na polarização política pelos próximos 4 anos o que podemos esperar no caso da eleição de Lula ou de Bolsonaro? É isso que descreverei a seguir ainda que, repito, o cenário mais provável seja a vitória de Lula nas urnas com uma revolta popular do eleitor mais fidelizado de Bolsonaro, o cenário de perigo de conflagração civil com risco de ruptura democrática para 2022 que foi descrito lá em 2014 no livro "Brasil o Lírio das Américas" e que pode ser revisto nesse post aqui do dia 20 de abril:

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Todo o cenário contextualizado, vamos lá:

 

BOLSONARO ELEITO NAS URNAS 

Tanto Lula como Bolsonaro contam cada um não apenas com metade dos votos do Brasil mas sobretudo com uma forte divisão entre antipetistas e antibolsonaristas, ainda que seja importante considerar que o eleitorado de Bolsonaro é mais engajado/fidelizado, enquanto a rejeição ao bolsonarismo é numericamente maior (ou seja, gente que não é petista mas prefere qualquer coisa que não seja o bolsonarismo). 

Na prática, se eleito, Bolsonaro não precisará dar um golpe clássico de tomada de poder (fechamento do Congresso e STF), pois teria não apenas tempo (todo um mandato) como também maioria no Congresso e nas ruas para realizar as medidas políticas semelhantes aquelas que Chavez realizou na Venezuela. A primeira delas seria passar no Congresso uma lei aumentando o número de ministros do STF permitindo que ele conquistasse maioria dos nomes indicados na Suprema Corte e assim ao longo do mandato conseguisse mudar a Constituição para permitir um terceiro mandato consecutivo e gradualmente formar uma maioria eleita de um Congresso Centrão-bolsonarista completamente fiel permitindo que todo esse grupo politico se perpetue no poder e após um terceiro mandato colocasse algum "poste" (como Putin fez com Medvdev) para um mandato tampão antes que ele retornasse para mais dois mandatos. Com uma boa força politica no Congresso (Câmara e Senado), redes sociais fortes (um gado fidelizado) com engajamento e com os principais centros econômicos do país com governadores ou alinhados ao bolsonarismo ou neutros esse seria o plano de perpetuação no poder de Bolsonaro. A única barreira poderia vir do Alto Comando, mas com um mandato de 4 anos Bolsonaro teria tempo de angariar apoio político de patentes altas do Exército a semelhança do que fez no primeiro mandato, dando vários cargos para os militares, o que na prática diminuiria a força de vozes contrárias no Alto Comando pois não apenas tal projeto impediria a volta dos vermelhos como igualmente manteria prestigio politico e financeiro para muitos membros de patentes altas. Esse é o plano de perpetuação do bolsonarismo. 

 

LULA ELEITO NAS URNAS 

Ainda que eleito presidente, Lula terá um Congresso com forte presença bolsonarista, tanto na Câmara como no Senado, além da maioria das capitais do Sul, Sudeste e Centro Oeste serem governadas por governadores mais alinhados ao bolsonarismo o que na prática representa que Lula terá muitas dificuldades para implementar uma agenda de grande descontrole fiscal ou excessivamente desenvolvimentista, como ficou marcado no final do seu segundo mandato e ao longo do governo Dilma. Com o país polarizado e ele Lula dependendo do crescimento economico pra segurar a pressão politica do bolsonarismo tanto dos eleitores como do Congresso é certo que terá que fazer muitas concessões, tanto na parte economica (já que Sul, Sudeste e Centro Oeste sao o motor da economia) como em questões de costumes para conseguir governar, especialmente considerando que o Centrão e, sobretudo o Centrão bolsonarista saiu fortalecido das eleições. Ao mesmo tempo Lula não pretende governar sendo controlado pelo Centrão como foi Bolsonaro (que precisou se curvar ao Centrão para não sofrer um processo de impeachment) e um dos seus objetivos principais é acabar com o orçamento secreto, não por qualquer nobre objetivo republicano, mas simplesmente para voltar ao velho modelo dos governos petistas nos quais caciques partidários só tinham direito à grandes cargos ministeriais e porcentagens em negociatas com empreiteiras e grandes estatais caso votassem junto com o governo. 

Politicamente o principal objetivo de Lula será cooptar o Centrão e ao mesmo tempo retirar o excessivo poder que o Centrão possui hoje com o orçamento secreto (como expliquei no parágrafo anterior). O segundo objetivo será sepultar o bolsonarismo algo que é prioritário para a agenda petista, visto que o projeto de perpetuação do petismo não comporta uma oposição com tamanha capacidade de reunir multidões nas ruas então o mais provável é que Lula busque apoio estratégico do PP e União Brasil que desejam formar o maior bloco partidário do Congresso (superando o PL) oferecendo o comando da Câmara e ao mesmo tempo evitando que esses dois partidos se unam ao PL (pois nesse caso se formaria um enorme bloco bolsonarista no Congresso). 

O principal argumento de Lula para "conquistar" o Centrão (além obviamente dos cargos e negociatas como era no tempo do governo vermelho do passado) é ainda mais forte: com um STF majoritariamente indicado pelo governo petista (e terá ainda mais duas indicações) Lula pode garantir o fim dos direitos politicos de Bolsonaro (que após findo o seu mandato será investigado por diversos crimes comuns) pois um dos temores do Centrão é que junto aos militares Bolsonaro tomasse o poder de forma total criando um Congresso meramente decorativo (o que obviamente não interessa de forma alguma ao Centrão). Garantindo que Bolsonaro não possa buscar um mandato futuro e que ele próprio Lula já não possui muito mais tempo na politica, Lula ofereceria assim como fez ao colocar Alckmin como vice, uma transição para 2026 apoiando um candidato ligado ao Centrão e a esquerda, mais ou menos nos moldes do que aconteceu na indicação de Dilma como sucessora.

 

MORO NO SENADO E 2026 

Não precisa ser nenhum gênio da estratégia ou profeta para antever que Lula terá um mandato difícil do ponto de vista político e que ao mesmo tempo buscará anular o bolsonarismo o que na prática só é possível, ao menos em parte, mandando o líder do bolsonarismo para a prisão. Nesse cenário, do ponto de vista estratégico e político a decisão de Moro de apoiar a candidatura de Bolsonaro é acertada: se adotasse neutralidade (não apoiando qualquer um dos dois candidatos no segundo turno) não apenas seria perseguido durante o governo Lula como ainda teria todo o grupo bolsonarista contra ele. Ao mesmo tempo sabendo que uma eventual prisão de Bolsonaro ou no mínimo que a retirada dos direitos políticos vai acontecer durante o mandato de Lula, então Moro acaba se cacifando como o principal nome de oposição para 2026 capaz de receber os votos bolsonaristas. 

Politicamente Moro mostrou força ao se eleger para o Senado, inclusive superando o candidato bolsonarista. Acredito que o apoio dele à candidatura de Bolsonaro é muito mais uma mensagem firme contra o petismo (pra ele um inimigo maior) e ao mesmo tempo um aceno de trégua, já que ele sabe que em um cenário polarizado como o atual e com as aspirações que ele tem pra 2026 não dá simplesmente para ficar contra os dois lados. De forma bem prática, e entendo a leitura dele, não há como construir uma terceira via sem os votos do bolsonarismo: o eleitor antipetismo e antibolsonarismo chega no máximo a 30%, ao mesmo tempo que um posicionamento contrário ao petismo mas sem atacar o bolsonarismo permite que ele consiga força politica para 2026, sobretudo em um cenário no qual Bolsonaro não possa concorrer (prisão e/ou perda dos direitos politicos com a eleição de Lula, algo certo de acontecer). Não há outro caminho para uma força fora da polarização bolsopetista emergir com chances em 2026. Moro sabe que a polarização vai se intensificar com a eleição de Lula e que até 2026 não há tempo pro povo sair desse maniqueísmo, essa é a realidade: sem os votos do bolsonarismo não há como viabilizar uma candidatura em 2026. É triste, mas é realidade do povo do Brasil. 

Afinal o que é democracia:

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1 de out. de 2022

Democracia

 


No texto a seguir vamos compreender, afinal, o que é democracia e porque nem com um e nem com o outro teremos uma democracia de verdade no país nos próximos 4 anos. 

Nesses tempos que um presidente sonha em dar um golpe de Estado e um ex-presidente (e ex-presidiário) sonha em voltar ao poder após chancela da Suprema Corte que sepultou todo o trabalho da Lava Jato (que prendeu dezenas de corruptos e devolveu bilhões aos cofres públicos, bilhões que foram afanados pela quadrilha vermelha em conluio com o Centrão que hoje governa o país com o atual presidente) precisamos compreender o perigo que a nossa democracia vivencia. 

Tecnicamente democracia existe não apenas quando os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) trabalham em harmonia mas sim quando todos eles e as demais instituições da República trabalham na busca do bem comum, do aperfeiçoamento das instituições tendo por objetivo primordial a eficiência no bom uso do dinheiro do pagador de impostos. 

Ameaçar a democracia não é apenas quando um protoditador ou um autocrata no comando de um país tenta fechar o Congresso e a Suprema Corte, essa é apenas a forma mais clara. Na verdade a ameaça mais perigosa é quando setores políticos e das forças armadas, ainda que não na sua totalidade, se deixam corromper (normalmente por dinheiro e poder de mando) e começam a trabalhar em conluio por um determinado projeto ou agenda que não apenas beneficie o seu grupo como, igualmente, garanta a sua perpetuação no poder. 

Se olharmos exemplos como o governo Putin ou o governo do falecido Chavez na Venezuela veremos exatamente essa dinâmica: uma maioria de politicos (Congresso) em conjunto com uma maioria de militares se uniu em um projeto de perpetuação no poder. O Congresso permaneceu aberto, com vários partidos (pluripartidarismo), porém as leis que eram criadas não visavam mais o bem comum, mas sim fortalecer os setores civis que serviam como sustentação da perpetuação do regime. Inevitavelmente nesse ambiente a corrupção se alastra pois nesses casos os órgãos de investigação, controle e o próprio poder de força (julgar e prender) não condenam e não punem aqueles que compõe o núcleo de poder, ao mesmo tempo que os adversários do regime são duramente perseguidos e condenados. 

Normalmente nesse tipo de projeto de poder que cria uma democracia de fachada já há dois fatores pré estabelecidos que favorecem a criação desse tipo de regime: o primeiro deles é uma corrupção já alastrada em boa medida nas instituições, política e forças armadas e o segundo fator é a baixa capacidade de engajamento popular contra corrupção e aqui entramos em um ponto crucial para entender a democracia e ao mesmo tempo como grupos políticos tentam desmobilizar o engajamento popular contra a corrupção. 

O primeiro ponto a ser compreendido é que as pessoas, o povão no geral, não está preocupado com a corrupção em si mas sim se as condições econômicas e sociais que o governo oferece ao grupo do qual essa pessoa faz parte serão boas ou não. Um exemplo prático é o agronegócio: na época do petismo, por conta das bases estratégicas e doutrinárias do partido, as invasões de terra (propriedades privadas) eram permitidas e até mesmo estimuladas ao mesmo tempo que a defesa legítima dos proprietários das terras era em boa medida combatida, ao mesmo tempo que uma série de órgãos reguladores aparelhados pelo governo vermelho dificultavam a produtividade de muitas terras por questões ambientais. Percebendo isso o atual governo mudou essa política e atraiu fortemente o apoio de produtores e grandes empresas ligadas ao agro. A mesma dinâmica aconteceu com a busca do atual governo pelo apoio dos evangélicos: como a agenda petista visava fortalecer o apoio de setores sociais mais progressistas nos costumes (agenda identitária) isso criou abertura para que um candidato com um discurso mais conservador nos costumes atraísse o apoio desse setor da sociedade. E o que isso significa? 

Significa que a maioria das pessoas, seja evangélica, ligada ao agronegócio ou a setores mais progressistas nos costumes na verdade não se importam, em sua maioria, com o tema corrupção, mas sim se o governo eleito vai favorecer o grupo majoritário ao qual fazem parte. 

A defesa, muitas vezes cega, de pessoas tanto em favor de Lula como Bolsonaro, fechando os olhos para evidências claras de corrupção e conluio com politicas corruptas e populistas se explica exatamente por isso: as pessoas não estão preocupadas se o governo vai combater a corrupção, se o governo vai combater os privilégios, mas sim se o grupo ao qual fazem parte será beneficiado pelo governo. 

Compreendendo isso percebemos que hoje as duas grandes forças populistas e corruptas que lutam pelo poder bebem exatamente da mesma fonte: enfraquecer o combate à corrupção e fortalecer os privilégios de Brasília e dos setores políticos federais, estaduais e municipais. Apesar de ambas as forças populistas lutarem pelo "controle do cofre", ambas governam juntas, mesmo com os derrotados nas urnas tendo menos poder. Recebem uma secrataria aqui, outra acolá, uma emenda secreta maior ou menor, mas continuam permitindo que o ambiente de corrupção se perpetue. E nesse ambiente o que mais interessa é manter a população dividida, pois se não é possível um grupo congregar um amplo apoio popular (como aconteceu com Putin e Chavez) ao menos, para esses dois grupos, a polarização favorece que as pessoas não se unam para combater o que realmente importa que é combater a corrupção e combater os privilégios. 

O movimento que vemos hoje, na verdade já no primeiro ano do governo Bolsonaro é de toda uma classe de políticos e poderosos de Brasília fazendo uma grande operação abafa contra a Lava Jato. A Lava Jato foi uma janela de oportunidade que surgiu, ironicamente, por uma falha estratégica do petismo: após os primeiros anos do governo Lula, que ele manteve o tripé macroeconomico do plano real (controle da inflação, dólar controlado pelo cambio flutuante e respeito ao teto de gastos) e ao mesmo tempo foi favorecido pelo crescimento enorme da China (boom das comodities) e o dólar barato (estratégia americana para favorecer as exportações americanas o que favoreceu o aumento do poder de compra interno do país sem comprometer as exportações que já estavam a pleno vapor pra China), tudo isso gerou não apenas pleno emprego no país e grande crescimento econômico como atiçou a gula dos corruptos criando o maior esquema de corrupção da história da humanidade (petrolão), só que ele só veio a tona devido a adoção, do mesmo governo petista, da fracassada politica desenvolvimentista keynesiana, que se iniciou nos últimos dois anos do governo Lula e seguiu no mandato da Dilma, só que nesse cenário com o dólar subindo e a China não comprando como comprava antes: já não havia mais dinheiro nem para os esquemas bilionários e sede de corrupção de vários entes políticos e nem para as bondades sociais, que poderiam ter continuado se o governo Lula tivesse aproveitado os anos de bonança para fazer as reformas necessárias (que não foram feitas) ao invés de acreditar que a farra das comodities seria eterna, assim como o dólar barato e todos poderiam manter os esquemas bilionários e distribuir benesses sociais sem qualquer preocupação. O dinheiro faltou e o “amor” acabou, tanto dos eleitores petistas acostumados com os avanços sociais e economicos do boom das comodities como dos corruptos, com a goela cada vez mais funda e que não aceitavam mais qualquer mixaria de propina. Começaram as reclamações, começaram a abrir o bico. 

A queda do padrão social e econômico é que permitiu a eclosão das manifestações, pois a maioria dos jovens dinâmicos (os primeiros a irem para as ruas) não estava cobrando contra a corrupção mas sim a falta dos benefícios sociais que eles não tinha mais de forma tão abundante (por conta do fim do dólar barato e do fim da explosão das comodities), o que gerou o enfraquecimento politico do petismo e abriu brecha para ampliar as investigações contra os esquemas de corrupção, pois a governanta diferentemente da raposa barbuda não tinha o traquejo politico para apaziguar a fome dos corruptos e resolveu, a época, abrir guerra contra o maior partido aliado do governo (o MDB) por conta do comando da Câmara o que gerou a oportunidade do impeachment. 

A maioria dos milhões que foram as ruas pela queda do governo petista e bradavam não ter políticos de estimação não estavam defendendo a democracia, nem combatendo corrupção e nem combatendo privilégios, na verdade a maioria estava ali apenas porque queria uma economia melhor e a volta de benefícios sociais. Bolsonaro teve a sagacidade de identificar que a maioria daqueles que estavam nas ruas contra o petismo eram, de alguma forma, ligados a grupos mais conservadores nos costumes (ou ao menos não simpatizante da excessiva lacração), ligados a grupos do agro em algum nível econômico e também as pessoas ligadas aos militares e policias tão demonizadas no governo petista e exatamente por essa sagacidade assumiu um discurso de antipetismo, como se a corrupção estivesse apenas no governo petista e ao mesmo tempo tomando pra si o mesmo manto da "virtude inquestionável" (que o petismo criou nos anos 80 como o partido diferente, o único contra a corrupção) e exatamente por isso mesmo quando logo nos primeiros seis meses de mandato se viu que Bolsonaro queria apenas salvar a pele da família de investigações de corrupção e ao mesmo tempo se manter no poder é que a maioria do povão que foi pra rua lutar pela queda do governo petista se tornou o mesmo povão ao defender o novo populista. 

É exatamente por isso que pessoas como Moro ou grupos como os procuradores de Curitiba são duramente atacados pelo sistema ou establishment. O Sistema é uma máquina poderosa demais pra ser vencida apenas por um homem ou um pequeno grupo de homens honestos, somente isso não basta. Ao mesmo tempo é preciso um amplo trabalho dos influenciadores e formadores de opinião para esclarecer as pessoas que a luta é contra a corrupção e contra os privilégios e não por eleger o politico ou governo que vai beneficiar mais o setor ao qual a pessoa faz parte, pois enquanto a corrupção e os privilégios não forem duramente combatidos pela população (exigindo leis claras e cobrando de forma ampla e coletiva) o que veremos é exatamente a manutenção e ampliação desse Sistema chancelado majoritariamente pelo Centrão, petistas e bolsonaristas. É esse Sistema descrito aqui que ameaça a democracia, não apenas uma tentativa clássica de golpe de Estado ou de ruptura institucional, a ameaça existe, pois já estamos em boa medida em uma democracia de fachada, contaminada por uma corrupção sistêmica e falta não apenas de engajamento da população na luta contra a corrupção e privilégios, mas especialmente pela falta da compreensão desse cenário por parte da maioria da população. 

Sem o aumento dessa conscientização da população não haverá como proteger a democracia do avanço cada vez maior da corrupção e dos privilégios. Os influenciadores e formadores de opinião que estão fora dessa polarização bolsopetista precisam se unir em um amplo trabalho de esclarecimento do povão, esclarecimento de que o verdadeiro mal, a verdadeira chaga que gera desigualdade social, pib fraco, crescimento da inflação e falta de investimento para melhorias sociais é exatamente a corrupção e os privilégios e que a única saída é cobrar de forma dura e constante qualquer governo eleito, seja de qual espectro for, por leis e ações claras contra a corrupção e contra os privilégios, sem politico de estimação, sem partido de estimação, sem ideologia de estimação. Preferências políticas e ideológicas todos temos mas elas não podem se converter em idolatria, voto de confiança não pode se tornar “cheque em branco” e nada pode estar acima da cobrança dos políticos pelo combate aos privilégios e combate a corrupção.  

Aconselho como complemento a leitura desse textão o texto que publiquei semanas atrás intitulado "A encruzilhada da República" (linkado a seguir):

https://www.facebook.com/photo?fbid=625045572312081