26 de dez. de 2010

Maria Madalena, Maria de Magdala, Maria de Betânia: apóstola de Jesus (parte I)


Jesus era chamado de Rabi, isso por toda a Bíblia. O titulo de Rabi só era dado a quem fosse casado, portanto inevitavelmente Jesus teria que ser casado. A lei judaica era explícita nesta situação: "Um homem não casado não pode ser mestre."

Muitos defensores do celibato de Jesus dizem que o termo “Rabi” significa apenas Mestre no idioma hebraico, mas só eram chamados de Rabi aqueles que eram autênticos rabinos. Isso fica clara numa passagem de João:

“Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és um Mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se Deus não estiver com ele.” (João 3:2)

Fica claro aqui que ser chamado de Rabi era algo além de simplesmente ser um mestre. A lei vigente na época de Jesus das escrituras só permitia que fosse Rabi o homem que fosse casado, isso depois começou a ser alterado, mas na época era um escândalo. O celibato era inconcebível entre os rabinos da época, ainda que houvesse exceções, como o Rabi Simeão ben Azzai, o qual, ao ser acusado de permanecer solteiro, dizia: “Minha alma está apaixonada pela Torá. Outros podem levar adiante o mundo”

Nas bodas de Caná, relatada em João 2:1-11, vemos a mãe de Jesus dando ordens aos serviçais da casa onde acontecia o casamento, ora isso só poderia estar acontecendo porque a mãe de Jesus não era uma convidada do casamento mas a própria mãe do noivo, ou alguém acha que faz alguém sentido a mãe de um convidado dar ordens aos serviçais? No tradicional casamento judeu somente a mãe do noivo pode dar ordens aos serviçais.

Na palestina do tempo de Jesus seria impossível que uma mulher não casada viajasse desacompanhada. Mais impensadamente ainda seria viajar desacompanhada e junto com um mestre religioso e seu círculo. Várias tradições parecem ter tomado conhecimento deste fato potencialmente embaraçoso. Pretende-se em alguns casos que Madalena tenha sido casada com um dos discípulos de Jesus. Se este era o caso, entretanto, seu relacionamento especial com Jesus e sua proximidade a ele os teriam tornado ambos sujeitos a suspeitas, se não acusações de adultério.

O rabino Eliazer, contemporâneo de Jesus, declarava : "Quem não procriar é semelhante a alguém que derrame sangue". Queria ele dizer que, quando não se contribuia para trazer seres à vida, equivalia ao crime de morte, em que se tirava a vida a alguém.

Se Jesus tivesse praticado o celibato, como pretende a Igreja dominante desde os primeiros tempos, isso teria gerado uma reação de exclusão, quer pela população comum, quer pelos fariseus, sempre atentos aos desvios do cumprimento da lei por ele e seus discípulos. A forma como Jesus se apresentava em público, e principalmente perante as mulheres, só seria admissível, sendo casado e tendo a companhia da sua esposa.

Maria Madalena era também conhecida como Maria de Betânia (João), Maria Madalena (João 19:25) ou Maria de Magdala (Marcos 16:9). Os apócrifos apresentam Maria Madalena como esposa do cristo, João apresenta Maria de Betânia como a mulher que ungiu Jesus com nardo e apresenta Maria Madalena como presente durante a crucificação do Messias. Sem dúvida, Maria Madalena é a mesma Maria de Betânia, erroneamente chamada de Maria de Magdala nos evangelhos sinópticos, veremos a explicação desses diferentes nomes pra mesma pessoa a seguir.

Vamos ao relato: João Batista batizava em Betânia, quando fala para dois de seus discípulos que o homem que ali achegava (Jesus) era o cordeiro de Deus (João 1:35) Os dois discípulos seguiram então Jesus e perguntaram a ele: Rabi, onde moras? Jesus leva então os dois discípulos ao local onde mora, já mencionado a poucos versículos: Betânia.

"Vinde e vede, respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele naquele dia." (Jo 1,39)

Um dos discípulos é André, irmão de Simão Pedro. O outro não é identificado, donde se depreende que seja o próprio João Evangelista, pois ao longo de todo o seu evangelho, nunca se refere a si próprio pelo nome.

Três dias depois Jesus se encontra em Caná na Galiléia, junto com sua mãe (que certamente já o esperava lá) e alguns discípulos. A distancia era de aproximadamente 150 km, podendo ter sido percorrida de barco em sua maioria pelas águas do Jordão.

A presença nessa cerimônia, dos discípulos recém recrutados, só pode ser compreendida, se este casamento estiver inserido no começo da vida pública de Jesus.

Depois, a preocupação da mãe de Jesus , perante a falta do vinho, só seria justificável, se fosse ela a anfitriã. Em princípio, não iria dar ordens específicas aos criados, numa casa que não fosse a sua.

Jesus transformou em vinho aproximadamente 500 litros (seis talhas de pedra), o que denota que era uma grande cerimônia de casamento, para iniciar Jesus na vida pública do povo da Galiléia, não é a toa que Jesus era conhecido também como o Rabi da Galiléia.

Mas então, porque razão não tornou claro, que as Bodas de Caná eram as de Jesus?

A resposta é simples. Se o tivesse feito, o seu evangelho passaria a ser considerado herético, e afastado definitivamente do canon cristão, como aconteceu com outros textos. João não quis assumir essa ruptura, e passou a informação da única maneira possível - codificando-a, da forma mais eficaz, de forma velada.

Surge assim, a segunda questão inevitável. Quem era a mulher de Jesus, a noiva de Caná?

Era sem dúvida, alguém que o acompanhava frequentemente.

O local, onde Jesus voltará com frequência, segundo consta do evangelho de João, mas também de Mateus (21:1;26:6) e de Marcos (11:1-2;14:3-9), situa-se em Betânia.

Mas quem vive em Betânia, e que ocupará um lugar de destaque no evangelho de João, e que será praticamente ignorado pelos outros evangelistas?

A resposta é Lázaro e suas duas irmãs, Marta e Maria.

A noiva e futura esposa é Maria de Betânia, conhecida como Maria Madalena.

No capitulo 11 do livro de João fica claro que a irmã de Lázaro, Maria, foi quem ungiu Jesus com nardo:

“Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta. Maria era quem ungira o Senhor com o óleo perfumado e lhe enxugara os pés com os seus cabelos. E Lázaro, que estava enfermo, era seu irmão. Suas irmãs mandaram, pois, dizer a Jesus: Senhor, aquele que tu amas está enfermo” (João 11:1-3)

Esse acontecimento esta relatado aqui:

Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do bálsamo”. (João 12:3)

Ou seja, João fez questão de dizer que o acontecimento envolvendo Maria no capítulo 11 era importante, pois cita algo que a nível temporal só ocorreu depois, dias depois.

No livro Cântico dos Cânticos são relatadas diversas canções de amor entre dois noivos. O Cântico identifica a poção simbólica dos esponsais com o ungüento aromático chamado nardo.

Era o mesmo bálsamo caro que foi usado por Maria de Betânia para ungir a cabeça de Jesus na casa de Lázaro e um incidente semelhante (narrado em Lucas 7:37-38) havia ocorrido algum tempo antes, quando uma mulher ungiu os pés de Jesus com ungüento, limpando-os depois com os próprios cabelos.
 
No Cântico dos Cânticos (1:12) há o refrão nupcial: “Enquanto o rei está assentado à sua mesa, o meu nardo exala o seu perfume”. Maria não só ungiu a cabeça de Jesus (Mateus 26:6-7 e Marcos 14:3), mas também ungiu-lhe os pés e os enxugou depois com os cabelos. Dois anos e meio antes, ela tinha realizado o mesmo ritual após as bodas de Caná.

Em ambas as ocasiões, a unção foi feita enquanto Jesus se sentava à mesa (como define o Cântico dos Cânticos). Era uma alusão ao antigo rito no qual uma noiva real preparava a mesa para o seu noivo. Realizar o rito com nardo era maneira de expressar privilégio de uma noiva messiânica.

Mas voltemos ao capitulo 11, quando Jesus vai a Betania ao encontro de Lazaro para ressuscitá-lo:

"Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-lhe ao encontro. Maria, porém, estava sentada em casa." (João 11:20)

Jesus conversa com Marta que em seguida:

"A essas palavras, ela foi chamar sua irmã Maria, dizendo-lhe baixinho: O Mestre está aí e te chama." (João 11:28)

Ora, se Marta não fosse cunhada de Jesus certamente não iria sozinha ao encontro de Jesus, não era o costume da época.

Esta situação, tem uma outra semelhante, relatada por Lucas. Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia (não é esclarecido o seu nome), onde moravam duas irmãs, Marta e Maria (Lucas 10:38-42). Duas questões surgem de imediato: Um homem entra sozinho na casa de duas mulheres. Impensável, a menos que elas fossem, sua cunhada e sua mulher. Lucas não se refere a Lázaro, nem nesta situação, nem em qualquer outra. Tanto ele como Mateus e Marcos, ignoram por completo esta personagem.

Vejamos os versículos:

“Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma mulher, chamada Marta, o recebeu em sua casa. Tinha ela uma irmã por nome Maria, que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-lo falar. Marta, toda preocupada na lida da casa, veio a Jesus e disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude. Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não será tirada.”

Jesus portanto só poderia ser esposo de Maria de Betânia.

Fica claro, bem claro, que Jesus só poderia ser esposo de Maria de Betânia, conhecida como Maria Madalena e também Maria de Magdala. Magdala era uma localidade perto de Tiberíades, na costa do lago Tiberíades. A Galiléia ficava exatamente entre o Mar Mediterrâneo e o lago Tiberíades e na Galiléia ficavam Caná, Magdala, Nazaré e Cafarnaum. Já na Judéia ficavam Belém, Jerusalém e próximo a Jerusalém a localidade de Betânia.

Betânia estava localizada próxima de Jerusalém e do monte das oliveiras.

Ora, as bodas do vilarejo de Caná ocorreram exatamente na Galiléia (onde ficava o vilarejo de Caná) isso explica porque muitos achavam que Maria fosse natural de Magdala, visto que a localidade de Magdala era próxima ao vilarejo de Caná (como podemos observar no mapa abaixo), na verdade a localidade mais conhecida da região próxima ao Tiberíades. Sendo assim, Maria era conhecida por ser de Betânia, pois morava em um vilarejo de lá e, era conhecida como de Magdala pois era o local próximo de Caná onde ocorreu seu casamento com Jesus. Praticamente do lado de Betânia, a beira do mar morto, ficava o templo essênio de Qumran.




17 de dez. de 2010

Hillel, A Reencarnação de Zoroastro


Na imagem a esquerda: ilustração de Arthur Szyk, a direita ilustração do pintor Rafaello Sanzio (Rafael)   

Jesus assim se define em Apocalipse 22:16

“Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos atestar estas coisas a respeito das igrejas. Eu sou a raiz e o descendente de Davi, a estrela radiosa da manhã”.

Sabemos que a “estrela da manhã” é o nome popular do planeta Vênus. Em hebraico, Vênus é conhecido como Hillel . Nessa singela passagem de Apocalipse, Jesus deixa claro que foi um dos alunos do rabi Hilel e de sua famosa escola. Hilel é também conhecido como Hilel I ou Hilel o Velho, Ancião ou ainda Hilel, o Babilonico.

A seguir um pequeno trecho do livro “História dos judeus” de Paul Johnson:

“Quanto à segunda questão, o grau até onde a Lei deve ser obedecida, a discussão original entre os saduceus, que apenas admitiam o Pentateuco escrito, e os fariseus, que ensinavam a Lei Oral, havia, na altura do tempo de Jesus, sido suplementada por uma outra discussão, entre os hacamin e os fariseus. Uma escola, dirigida por Shammai, o Ancião (por volta de 50 a.C. 30 AD.), adotou uma opinião rigorista especialmente em questões de limpeza e de falta de limpeza, uma área explosiva, já que militava fortemente contra a capacidade que teriam as pessoas pobres comuns de atingir a santidade. O rigorismo da escola shamai, com efeito, levaria, em última instância, os seus descendentes e segui dores para fora da tradição rabínico-judaica, e eles se desvaneceram como os próprios saduceus. Por outro lado, havia a escola de Hillel, o Ancião, contemporâneo de Shammai.

Ele provinha da diáspora e foi mais tarde mencionado como ‘Hillel, o Babilônio’. Trouxe com ele idéias mais humanas e universalistas da interpretação da Torá. Para Shamai, a essência da Torá estava na minúcia; se não se conhecessem as minúcias com exatidão, o sistema tornava-se insignificante e não se podia sustentar. Para Hillel, a essência da Torá consistia em seu espírito: desde que se aprendesse bem o espírito, podiam-se deixar de lado as minúcias. A tradição contrastou a raiva e o pedantismo de Shammai com a humildade e humanidade de Hillel, mas o que foi lembrado melhor do que tudo foi à ansiedade de Hillel em tornar possível para todos os judeus e os conversos a obediência á Lei. A um pagão que disse que se tornaria um judeu se pudesse aprender a Torá pisando num pé só, diz-se que Hillel respondeu: “O que lhe é odioso, não o faça a seu próximo: isto é a Torá, toda ela. Todo o resto é comentário — vai e estuda”.

Jesus era um membro da escola de Hillel, e pode ter estudado com ele, pois Hillel tinha muitos alunos. Repetiu esse famoso dito de Hillel, e é possível que tenha usado outros, pois Hillel era um famoso aforista. Mas é claro que tomado literalmente o que Hiliel disse sobre a Torá é falso. Agir uma pessoa como ela quer que se aja para consigo não constitui a Torá inteira. A Torá é apenas em parte um código ético. É também, em essência, uma série de mandamentos divinos absolutistas que cobre uma grande variedade de atividades, muita das quais nada têm que ver com as relações entre homens. Não é verdade que “todo resto é comentário”. Se o tivesse sido, outros povos, os gregos em particular, teriam sentido muito menos dificuldade em aceitá-la. “Todo o resto”, da circuncisão, à dieta, ao contato e ao asseio, longe de serem comentários eram injunções de grande antiguidade que constituíam as grandes barreiras entre os judeus devotos e o resto da humanidade. Nisso estava o grande obstáculo não apenas para universalizar o judaísmo, mas mesmo para tornar sua prática possível a todos os judeus.

A carreira do ensinamento de Jesus o viu traduzir o aforismo de Hiliel num sistema de teologia moral, e, ao fazê-lo, despir a Lei de tudo o que não fossem elementos morais e éticos. Não se deve isso a que Jesus fosse indulgente. Pelo contrário, sob alguns aspectos ele era mais rigoroso do que muitos sábios. Ele, por exemplo, não admitia o divórcio, um ensinamento que mais tarde se tornaria e ainda permanece no dia de hoje enormemente importante. Mas, exatamente como Jesus não aceitava o Templo quando este se colocava entre Deus e a busca de santidade pelo homem, assim ele descartava a Lei quando ela impedia, em vez de auxiliar, o caminho para Deus.

O rigorismo de Jesus em levar o ensinamento de Hillel à sua conclusão lógica conduziu-o a deixar de ser um sábio ortodoxo em qualquer sentido que tivesse significação e, na verdade, em deixar de ser um judeu. Ele criou uma religião que era sui generis, chamada com exatidão cristianismo”.

Mais alguns trechos desse livro podem ser lidos aqui: AQUI 
 
Hilel é conhecido por ser o sábio que preservava o amor, o humanismo, a bondade, a paciência e a humildade. Ele foi o primeiro dos rabinos fariseus, nasceu na Babilônia durante o século I A.E.C., mudou-se para a Judéia com 14 anos. Passou alguns anos em Jerusalém e depois se mudou para a Galiléia. Vale ressaltar que Nicodemos e José de Arimatéia também eram fariseus e assim como Hilel apoiaram a missão de Jesus

Os ensinamentos dele se encontram relatados no Pirkei Avot (a ética dos pais), escrito na Babilônia e depois acrescidos de outros ensinamentos, sendo adicionados ao Talmud.

Hllel era uma pessoa amável, simples, próxima às camadas mais modestas, e suas máximas breves refletem sua generosidade, piedade e amor à humanidade.

Hilel foi responsável pelo estabelecimento da Halachá, o conjunto de regras baseadas na interpretação da Tora, ou seja, como um judeu deveria viver de acordo com a Tora. Ele foi o líder de uma revolução espiritual no judaísmo. Ele acreditava na presença contínua de D’us no Universo e que a única maneira dos homens servirem a D’us era por meio de seus atos, sendo diretamente responsáveis por eles perante D’us. Falava também de união mística entre D’us e o homem. Apesar de todas as controvérsias que se acenderam entre estas, ambas inscreviam-se na estrutura tradicionalmente aceita no judaísmo. As disputas pela Halachá entre elas prosseguiram por muitas gerações até que finalmente prevaleceram os pontos de vista de Hilel.

Nessa outra fonte, também encontramos preciosas informações sobre a vida de Hilel: AQUI

“Hilel era reverenciado como verdadeiro líder espiritual e religioso. O rei Herodes não teve outra escolha senão aceitar a autoridade religiosa do Sanhedrin, reconhecer o prestígio de Hilel e respeitar o controle que este exercia sobre a vida religiosa.

O sábio que era puro amor, humanismo e bondade, infinita paciência e profunda humildade.

Na Terra de Israel, no último meio século que antecedeu a Era Comum, houve uma grande disseminação da Lei Oral, que tornou os eruditos da Mishná os verdadeiros líderes do povo, embora a autoridade política e o alto sacerdócio se encontrassem em outras mãos.

Estes sábios são os Tanaim. Taná, em aramaico, significa aquele que estuda, repetindo e transmitindo os ensinamentos de seus mestres.

O período dos Tanaim foi de criatividade, inovação e grande florescimento da cultura judaica, ao mesmo tempo em que foi de profunda turbulência e crise, culminando com a destruição do Templo no ano 70 da Era Comum, o que tornou necessária a reestruturação de toda a vida religiosa.

A primeira geração de Tanaim, que exerceu suas atividades no início do reinado de Herodes, é representada por Hillel e Shamai, fundadores de duas escolas que levaram seus nomes (Bet Hillel e Bet Shamai). Apesar de todas as controvérsias que se acenderam entre estas, ambas inscreviam-se na estrutura tradicionalmente aceita no judaísmo. As disputas haláchicas entre elas prosseguiram por muitas gerações até que finalmente prevaleceram os pontos de vista da Casa de Hillel. O Talmud Babilônico nos traz, numa única frase, a conclusão: "Ambas são as palavras do D’us vivo, e a decisão está de acordo com a casa de Hillel."

As duas escolas refletem a personalidade de seus fundadores. Hillel era uma pessoa amável, simples, próxima às camadas mais modestas, e suas máximas breves refletem sua generosidade, piedade e amor à humanidade. Shamai era extremamente íntegro, mas rígido e irascível. No Talmud se diz: "Que o homem seja sempre humilde e paciente como Hillel e não exaltado como Shamai."

Hillel foi o menos sentencioso e o mais tolerante dos sábios rabínicos. Falava a língua do povo, ao qual ensinava ética. Suas palavras refletem seu humanismo e bondade:

"Não faça aos outros o que não quer que façam a você. Aí está toda a Torá. O resto é mero comentário." Ou..."Sejam como os discípulos de Aarão, amando e buscando a paz, amando a humanidade e aproximando-a da Torá".

E, talvez, sua máxima mais famosa seja: "Se não eu por mim, quem por mim? Se eu for só por mim, quem sou eu? Se não for agora, quando?"

Hillel nasceu numa próspera família da Babilônia e com cerca de trinta anos foi estudar com os sábios Shemaia e Abtalion em Jerusalém. Lá, ele vivia em condições de grande penúria, trabalhando como simples lenhador. O amor ao estudo fazia com que adiasse seu retorno à cidade natal, onde seus correligionários viviam em paz, longe das turbulências que agitavam a Terra de Israel.

Conta-se sobre Rabi Hillel que, quando estudava em Jerusalém, era tão pobre que só ganhava uma moeda de cobre por dia de trabalho. Metade desse dinheiro ele dava ao bedel, para poder freqüentar a Casa de Estudo, e a outra metade usava para o seu sustento e o de sua família.

Certo dia, não ganhou nada. Nesse dia, nem ele nem sua família comeram; mas, ansioso para ouvir as palavras de Shemaia e Abtalion, e como o bedel não o deixou entrar sem pagar, Hillel subiu no telhado e, deitado sobre a clarabóia, se esforçou para ouvir as discussões. Concentrado como estava, não lembrou que era sexta-feira, em pleno inverno, nem que nevava. Passou, assim, a noite deitado sobre o telhado. No dia seguinte, a academia pareceu bem mais escura do que de costume: a clarabóia estava coberta de neve, mas olhando bem dava para perceber o contorno de um homem debaixo da neve. Logo reconheceram Hillel, a quem lavaram, massagearam com óleo, deixando-o esquentar-se perto do fogo. Ninguém hesitou em transgredir o Shabat para salvá-lo.

Após a morte de Shemaia e Abtalion, provavelmente Hillel voltou para a Babilônia, mas visitava freqüentemente Jerusalém em peregrinação antes das Grandes Festas ou a cada vez que precisava esclarecer alguma dúvida sobre as leis.

Hillel foi o primeiro dos autores da Mishná a afirmar que o judaísmo tinha como objetivo implementar o cumprimento dos deveres de cada indivíduo em relação a seu próximo e que todos os mandamentos são meios para alcançar esta finalidade. Também foi o primeiro a estabelecer o princípio do amor fraterno como condição principal para todos os mandamentos da Torá.

Conta a Hagadá que um gentio procurou Hillel, pedindo que lhe ensinasse toda a Torá enquanto ele se equilibrava sobre uma perna só. Este, em vez de expulsá-lo por sua insolência, como fizera Shamai, disse-lhe calmamente:

"Não faça aos outros o que não quer que façam a você. Eis toda a Torá. Todo o resto é comentário. Vai e estuda!"

Hillel era tão bondoso com os outros que tolerava todos os caprichos, sem ficar com raiva. Certa vez, ofereceu a um homem pobre um cavalo e um escravo que corresse na sua frente, como era costume. Como não conseguiu o escravo, ele mesmo ficou correndo na frente do homem, por um percurso de três milhas.

A paciência de Hillel era tão inabalável, que há várias histórias sobre tentativas frustradas de o fazer enfurecer-se.

Uma vez um homem apostou 400 moedas de prata que faria Hillel perder a paciência. Foi procurar o mestre na sexta-feira, quando este tomava banho, preparando-se para o Shabat: "Quem é Hillel e onde ele está?" Hillel se enrolou em uma toalha e foi ver quem o chamava. "Eu tenho uma pergunta, disse: "Por que os babilônios têm a cabeça redonda?" "Boa pergunta", respondeu Hillel. "É porque suas parteiras não são suficientemente competentes".

Pouco depois o mesmo homem voltou e, novamente, chamou Hillel com arrogância, perguntando por que o povo de Tadmor tem a vista fraca.

"É porque Tadmor é situada em uma região desértica e a areia entra nos olhos de seus habitantes".

Pouco depois, o homem voltou a chamar Hillel para fazer-lhe mais uma pergunta: "Por que os africanos têm os pés tão largos?" "Porque eles andam descalços em terreno pantanoso."

Aí o homem disse: "Eu tenho mais uma pergunta, mas estou com medo de que você fique bravo". "Faça quantas perguntas quiser e eu responderei da melhor forma que meus conhecimentos permitirem". "Você é Hillel, o Nassi dos judeus?" "Sou". "Então espero que os judeus não tenham ninguém mais como você! Por sua causa perdi uma grande soma de dinheiro, apostando que conseguiria enfurecê-lo."

E Hillel respondeu: "Mesmo que você perca o dobro deste valor, não conseguirá fazer-me perder a paciência!"

Hillel foi a reencarnaçao de Zoroastro ou Zaratustra. “Coincidentemente” , como já exposto aqui, o nome Hillel significa Vênus enquanto o nome Zoroastro significa contemplador de astros , sendo inclusive numa famosa pintura de Rafael Zoroastro aparece com um planeta em suas mãos. Assim como Hillel era uma pessoa amável, simples, próxima às camadas mais modestas, Zoroastro era conhecido conhecido por sua grande bondade para com os pobres, anciãos. Hillel foi responsavel por uma revoluçao espiritual no judaismo, Zoroastro foi responsavel por uma revoluçao espiritual na Pérsia, quando o rei Vishtaspa e sua corte real passaram a seguir os preceitos religiosos de Zoroastro. Ambos , Zoroastro e Hillel, também morreram em avançada idade.

O mais interessante na pintura de Rafael “A Escola de Atenas”, onde Zoroastro aparece pintado de frente para Ptolomeu (este ultimo segurando o globo terrestre, pois segundo Ptolomeu os planetas giravam ao redor da Terra) , é que se considerarmos os mundos mais próximos da Terra em sua órbita (no caso, Vênus e Marte), o planeta que Zoroastro esta segurando só poderia ser Vênus, já que Marte tem tamanho próximo ao da Terra, enquanto Vênus é bem maior, exatamente como a proporção da pintura de Rafael. Ou seja, Zoroastro tem nas mãos Hillel (Vênus em hebraico), num tom azulado tal como a Terra, podendo ser interpretado como Hillel na Terra. Detalhe: nesse planeta que Zoroastro segura aparecem 72 pontos representados estrelas, ambos uma clara representação do judaísmo (o numero 72 e a estrela, símbolo do judaísmo)


No mesmo quadro, Platão aparece segurando o livro “Timeu e Crítias”, pintado por Rafael com o rosto de Leonardo DaVinci, apontando o dedo pra cima exatamente como Tomé no quadro da última ceia pintado por Da Vinci....Mas isso é assunto pro texto sobre Maria de Magdala que colocarei futuramente no blog. O quadro completo “A Escola de Atenas” está abaixo (clique na foto para ampliá-la):