Tudo na vida é dual, até
mesmo o que, aparentemente não é. Temos, por exemplo, dois ouvidos, dois olhos,
duas pernas, mas uma única boca, um único coração e um único cérebro.
Mesmo assim, a boca
possui dois lábios, o coração dois átrios que realizam o movimento principal de
bombeamento e o cérebro possui dois hemisférios.
A dualidade aparentemente
poderia indicar separação, antítese, mas na verdade indica a multiplicação,
transformação para o fortalecimento e união daquilo que foi multiplicado e
transformado.
No processo de geração do
embrião humano, assim como em todo o ciclo celular o mesmo processo ocorre: de
uma única célula é gerada uma nova célula, com a mesma composição genética da
célula que a gerou, processo que ocorre em todos os animais e plantas.
Na geração do embrião
humano, assim como na reprodução sexuada, duas células (no caso, reprodutivas)
unem-se para formar uma nova estrutura: um ovo, que dará origem a um embrião e
em seguida a um novo ser da mesma espécie.
A criação do espírito ou
centelha espiritual ocorre da mesma forma: Deus, em sua essência feminina e
masculina, Pai e Mãe, transmite o princípio vital inteligente a cada ser
vivente criado para que este princípio se desenvolva, cresça, multiplique, exatamente
como uma célula.
O corpo humano, por
exemplo, é um gigantesco organismo multicelular com trilhões de células.
Da mesma forma, o
espírito humano vive em um conjunto com bilhões de outros espíritos ou
“células” vivendo na Terra, o que de certa forma justifica a alegoria de
Efésios de que o homem precisa ser parte consciente do “corpo” do Cristo.
No mundo espiritual
existe uma atividade semelhante à Criação Divina da vida: é a formação de uma
egrégora.
Criar espíritos ou
princípios vitais com o gérmen da inteligência é uma exclusividade da Fonte, a
causa primária de Tudo. Mas as criaturas também podem exercer papel semelhante
ao unir seus pensamentos, vontade, esforços em um objetivo comum, exatamente a
descrição de uma egrégora, que possui núcleo como uma célula e capacidade de
multiplicação da sua energia e da sua programação interna. Seguindo uma
programação “natural”, alguns milhões de células do corpo humano se organizam
para formar ou regenerar um órgão, da mesma forma milhões de pessoas ou “células
espirituais” vivendo no planeta, podem elas criar a união em um foco, um objetivo
comum, para mudar uma estrutura, um órgão, existente no planeta Terra, o “corpo
humano” da qual todas as “células” fazem parte.
O princípio da união, do
coletivo, por um ideal maior, está presente em várias religiões ou filosofias,
desde o Cristianismo Primitivo, passando pela Cabala e indo até estudos mais
iniciáticos e da mesma forma é a verdadeira chave evolutiva, quando o homem deixa
de considerar-se “um corpo” para descobrir que é uma “célula”, inserida em um
mundo (este sim, verdadeiramente um corpo) e por isso mesmo deve realizar
esforços conjuntos com as demais “células” para manter o corpo sadio.
Ao descobrir essa chave,
o espírito descobre que pode não apenas unir seus esforços com outros espíritos
por um propósito mais elevado, mas também unir suas próprias experiências vivências,
faixas de passado, encarnações anteriores em um movimento harmônico de
expansão, criando em sua própria “célula” um organismo “multicelular maior”, o
que muitos chamam de expansão da consciência, fazendo com que a célula torne-se
verdadeiramente corpo, o homem torne-se Cristo.
Com base nessa explicação
fica mais fácil compreender porque João Evangelista comparou Jesus com o Sol e
ao mesmo tempo comparou o Sol com algo bestial. Na Cabala, o Sol é representado
pelo 666, a kamea solar: basta um rápido estudo sobre os “quadrados mágicos”
para perceber que o Sol é representado pela quadrado 6x6, totalizando 36
quadrados menores entre linhas e colunas que entre si somados equivalem a 666.
No plano da eclíptica,
todos os planetas do Sistema Solar orbitam o Sol numa espécie de disco
imaginário. O Sol está no centro da Arvore das Vidas como a esfera Thipheret.
Nada mais natural do que o Sol ou o 666 represente o homem iluminado, a
essência divina perfeita existente dentro de cada homem, por isso o 666 é
número de homem.
Da mesma forma que o Sol
no centro da eclíptica ilumina todas as camadas planetárias do Sistema Solar
mergulhadas na escuridão espacial, a essência espiritual divina, como um Sol,
ilumina todas as camadas da alma e dos seus corpos espirituais e semi-materiais
ainda imersos na escuridão da ignorância.
Dentro do homem, porém,
existe a Besta, o animal feroz, o “therion”, o instinto primitivo, o Sol das
Trevas interior que coexiste fusionado ao Sol Divino, a alma em evolução ainda
imperfeita que também representa o 666.
Em um sentido profundo, a
narrativa do Apocalipse que fala das representações da Besta do início ao fim,
de cavaleiros montando cavalos ferozes que também representam Bestas, narra a
jornada da alma humana ainda em um mundo de expiações e provações, lutando para
descobrir o seu Sol verdadeiro, o sentido de Regeneração, a pirâmide mítica que
desce na forma da Nova Jerusalém, como a luz dos céus superiores que chega pelo
chacra coroa e simboliza a elevação da consciência.
A jornada dos 22
capítulos do Apocalipse é similiar aos 22 caminhos que unem as esferas da
Arvore da Vida e possui justamente em seu centro o Sol, o 666, mergulhado nas
trevas, nas Bestas durante a maior parte da narrativa associada ao atual mundo
de provações que vivemos, mas que culmina no encontro com o verdadeiro Sol, a
essência espiritual pura que serve de guia aos espíritos viventes em mundos de
Regeneração, guiados pelo propósito de crescimento coletivo e não das paixões
individuais, pois compreendem e sentem, verdadeiramente, que pela união
harmônica e comum de propósitos maiores, naturalmente vivenciarão seu próprio
crescimento energético e consciencial.
Da mesma forma essa analogia
explica a imagem do mítico Dragão. Se colocarmos o símbolo do infinito sobre o
corpo humano, seu centro, o ponto de conversão ou “encruzilhada” fica exatamente
sobre o chacra sexual, o gerador da vida orgânica, ligado tanto as
manifestações mais nobres de amor e sentimento como aos mais primitivos
impulsos instintivos do sexo, eis a luta do Dragão e do Sol, pois o Dragão é o
impulso, a serpente da kundalini que naturalmente circula por todos os chacras
e encontra seu ponto natural de maior força exatamente no chacra sexual, enquanto
que o Sol é o ponto mais elevado, o chacra coroa que está acima do corpo humano
e que também irradia energia por todo o corpo, fazendo essa energia circular
também por todos os chacras.
O entrelaçamento destas
energias simbolizado no desenho do infinito sobre o corpo humano une as duas
energias: a telúrica, que vem da terra, que sobe pelo corpo humano, pela coluna
e circula por todo o corpo, assim como a energia espiritual, que vem das
esferas superiores pelo chacra coroa e percorre o mesmo caminho que a
kundalini, só que no sentido de cima para baixo.
O entrelaçamento dessas
energias no chacra sexual mostra que é a vontade superior que deve guiar o
Dragão escondido na caverna, pois é lá “embaixo” que as energias se cruzam, aonde
a energia superior chega para dominar o Dragão dos instintos.
Da mesma forma que o
homem precisa reconhecer-se ainda uma célula, que precisa unir-se por um
propósito maior acima de si mesmo e dos seus interesses pessoais com outras “células”,
para o crescimento do conjunto, do “corpo Terra”, também precisa reconhecer-se
um Sol e um Dragão, pois se ignorar a sua natureza e achar-se já purificado ou
apenas luz, então perigosamente permitirá que o Dragão, sempre presente e
escondido dentro de si, nas profundas potencialidades vitais e anímicas guie,
instintivamente, suas ações e seu livre arbítrio. O Dragão não pode ser
esquecido ou acorrentado por muito tempo, mas sim comandado e treinado, pois
sua natureza é ignífera assim como o Sol.
Somente assim ele poderá
converter-se um dia na pomba branca, como as duas serpentes do caduceu na
iniciação de Jesus que se transformaram em uma pomba com suas duas asas abertas,
no topo do mítico símbolo iniciático.
“Sede prudente como as
serpentes e simples como as pombas” (Mateus 10:16)
Esta é a jornada
evolutiva do homem e em boa parte alegoricamente representada no Apocalipse ao
longo das visões proféticas mostradas a João em desdobramento consciente, essa
é a iniciação do homem para a sua ascensão, tal qual a iniciação de Jesus para
a ascensão da sua missão messiânica entre os homens.
A união, o trabalho
coletivo por um ideal maior me lembra o que o guardião Jeremias disse em uma
das minhas projeções e consta no livro “A
Bíblia no 3º Milênio”:
A humanidade precisa mais
do que despertar; as pessoas precisam é começar a “malhar” sua espiritualidade,
trabalhar sinceramente sua renovação moral, pois quem ainda está dormindo e não
“despertou” não será com palavras decoradas ou frases de autoajuda, mas sim com
o “desperta-dor”, um “relógio de provações” tocando bem alto para levantá-los
da inércia, afinal os trabalhadores da última hora descritos na parábola de
Jesus são os trabalhadores, aqueles já “acordados” e trabalhando sua reforma
interior e não os “dorminhocos” da última hora.
Apesar do estilo às vezes
ácido do nobre guardião, penso de forma semelhante: não existe evolução ou
expansão da consciência sem um trabalho de renovação moral, tanto a nível
exterior como as células que trabalham e buscam a união por um nobre propósito,
como a nível interior na luta entre o Sol e o Dragão (a Besta) interior. Sem
este sentido prático de trabalho coletivo e luta interior de nada adianta “despertar”
e permanecer anestesiado até o ápice da Tribulação.
Trabalho e luta, eis o
significado da narrativa apocalíptica que explica bem o atual momento da Era de
Expiações e Provações em seus momentos finais, momentos estes definidos como
Transição Planetária. Significado que mostra claramente a necessidade de
reconhecer-se célula que precisa trabalhar pelo bem coletivo do planeta acima
do bem pessoal e ao mesmo tempo reconhecer a própria natureza ignífera do
espírito: o Dragão (alma imperfeita em evolução) e o Sol (Espírito, essência
divina), pois imergindo em si mesmo (o batismo) o homem encontrará essas duas
naturezas e inevitavelmente, tal qual a narrativa apocalíptica, terá que derrotar
a Besta, o seu Dragão interior
“Eu vim trazer fogo à Terra, e que quero eu, senão que ele
se acenda? Eu, pois, tenho de ser batizado num batismo, e quão grande não é a
minha angústia, até que ele se cumpra?” (Lucas 12:49)
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