Nos
3 textos sobre o xadrez mundial abordei os motivos do interesse da Europa, EUA,
Rússia e China no conflito da Síria, em especial na questão de fornecimento de
gás e petróleo (especificamente no segundo texto). Inclusive aquele texto
explica como as 3 grandes potencias bélicas (EUA, Rússia e China) se preparam
para todas as fases que antecedem um conflito nuclear e a fase seguinte a um
conflito nuclear (quem ainda não leu aconselho fortemente que leia, link ao
final deste post para entender o que escreverei a seguir).
Do
ponto de vista estratégico (para os EUA) e do ponto de vista político (para
Trump) a jogada do presidente americano foi genial (se foi mais dele ou dos seus
generais não sabemos, mas creio na segunda hipótese). O fator surpresa sempre é
decisivo em um conflito, tanto em ações inesperadas como em traições e nesses
casos joga melhor esse jogo quem consegue antever certos movimentos ou ter o
"feeling" de perceber quando uma situação aparentemente estável está
mudando de forma velada e rapidamente.
Estrategicamente
um conflito nuclear, no momento, não interessa a China. Economia que mais
cresce no mundo e que ainda está desenvolvendo seu arsenal militar para que seja
a maior potência bélica e econômica do mundo. Para a China interessa que o auge
do confronto seja em um momento futuro quando estiver com peças posicionadas no
tabuleiro para derrotar os americanos.
A
Rússia de Putin (e Putin e Rússia são uma coisa só junto com a KGB enquanto o
ditador for vivo) está pressionada pelo avanço da China na Ásia, Oriente Médio
e ex repúblicas russas. Ainda que sejam aliados (até a pagina dois) a Rússia
sabe das intenções hegemônicas da China na região, que é a mesma região de
influencia da Rússia (maiores detalhes texto II do xadrez mundial). As duas
saídas que Putin encontrou foram: tentar enfraquecer a Europa (estimulando
candidatos de extrema direita como Le Pen para fomentar o separatismo na zona
do Euro) e ao mesmo tempo buscando um aliado nos EUA (Trump tem negócios bilionários
com empresários russos há mais de 10 anos e se mostrou aparentemente uma opção
mais palatável do que Hillary que já havia deixado claro que agiria com rigor
na questão da Síria). Por isso, para Putin, interessava conseguir atrair os EUA
para o seu lado num projeto de expansão no Oriente Médio e nesse ponto Trump
seria o candidato ideal: o americano com o discurso de exterminar o estado islâmico
e o russo apoiando um ditador sírio alauita que supostamente também combateria
o isis no Iraque, plano perfeito (pra eles). Mas sempre há um porém e esse
porém chama-se Exército americano que nunca confiou na Rússia e verdadeiramente
enxerga Putin como um fomentador do marxismo e do comunismo que regeu a URSS
nos anos da Guerra Fria
E
Trump? Trump está enrolado com o FBI e as forças armadas e de inteligência dos
EUA pelas suspeitas de envolvimento russo nas eleições em favor do magnata
americano, além de todo o seu histórico de negócios pra lá de suspeitos com
empresários russos no passado. Ao declarar em campanha que viraria suas
baterias contra a China e ao mesmo tempo iniciava um chamego com o presidente
russo, Trump acendeu todas as luzes vermelhas nos serviços de inteligência e do
Exército americano (algo que aconteceu no passado com o presidente JFK). A
jogada de Trump nos últimos dias (e acredito que muito motivada por uma séria
pressão do Exército e da inteligência americana) não apenas provou a lealdade
(ainda que temporariamente e com certas reservas) do presidente americano ao
Exército como colocou Putin em uma situação muito difícil. Vamos entender a
jogada....
PUTIN
EM XEQUE NO TABULEIRO
Não
foi coincidência que o ataque com armas químicas na Síria tenha ocorrido
exatamente as vésperas da visita do líder chinês aos EUA. E menos coincidência ainda que tenha ocorrido
logo em seguida a um ataque no metrô russo.
Qual
o cenário que estava sendo montado? O terrorismo do isis está alem dos limites
e duras medidas precisam ser tomadas (leia-se invasão no Iraque e fronteira com
a Turquia) assim como o presidente alauita da Síria que supostamente luta
contra o isis precisa ser fortalecido. Esse era o roteiro perfeito costurado com
o atentado no metrô russo. Porém, como um raio, ele foi rapidamente desmontado.
O
ataque com armas químicas era a prova decisiva de fidelidade de Trump: Putin
acreditava que a aliança costurada entre ambos faria o americano comprar o
discurso de ataque do isis contra o regime alauita de Assad e que uma dura
resposta bélica, de russos e americanos deveria ser dada sobre o Oriente Médio
contra o isis. Esse foi o lance do presidente russo e foi aqui que Trump
"quebrou as pernas" do russo
Trump
estava na berlinda. Precisava provar sua fidelidade ao Exército americano e
mostrar, com algum sinal, de que seu chamego com Putin não estava acima da
fidelidade ao Exército americano. E foi assim que Trump decidiu mudar suas
ações em um espaço de algumas horas: primeiro se aproximou do líder chinês
dando a entender que não vai colocar embargo econômico algum e que deseja uma
colaboração, sobretudo um controle chinês sobre a Coréia do Norte... isso foi surpreendente
e quando isso aconteceu Putin deve ter dado uma engasgada ao tomar sua vodka.
Trump mostrou que não estava disposto a iniciar hostilidades bélicas com a
China. E aí veio a segunda jogada: atacar uma base síria de forma fulminante e
inesperada, mostrando que o governo americano não comprou a historia de ataque químico
por parte do isis e que sim, o verdadeiro responsável pelo ataque químico foi
Assad
Essa
mudança rápida e inesperada de Trump (leia-se pressão do Exército) colocou a Rússia
em uma situação difícil. A Rússia sabe que se tomar uma medida mais dura agora
não terá o apoio da China que recebeu um aceno de paz (temporário) dos EUA e que
ao mesmo tempo não deseja fortalecer ainda mais o poder de ação de Putin no
Oriente Médio... Alias, para os chineses interessados em construir uma nova
rota da Seda na região asiática passando pelo território próximo ao conflito
interessa pacificar a região da Síria e melhor ainda se isso acontecer
enfraquecendo a posição russa naquela região através da queda de Assad. Como já
lembrei nos textos do xadrez mundial, a China tem ajudado a Rússia enquanto
isso for interessante para os chineses, ainda que ambos saibam que um confronto
dos dois gigantes que compartilham a mesma área de interesse seja
inevitável.... prova disso é que no recente conflito no mar da China, a Rússia
se posicionou contra os chineses. Como eu já disse é uma aliança até a página
dois.
O
recado nas entrelinhas que é o mais importante é que o governo americano está
disposto a não prolongar por muito mais tempo o impasse na Síria. Se no passado
com Obama o foco da inteligência americana foi desmantelar o poderio vermelho
na América do Sul (assunto previsto em primeira mão no livro "Brasil o
Lírio das Américas" em 2014) e estrangular economicamente a Rússia através
da queda do preço do petróleo, o foco atual da estratégia americana (e por isso
Hillary havia deixado isso claro) é resolver o conflito na Síria. A jogada de
acenar para a China e limitar o movimento dos russos foi muito inteligente, até
porque pressiona a ONU e demais países (leia-se China) a buscarem uma solução
de transição para o governo de Assad. Então o que poderá acontecer nos próximos
lances (meses) de Putin?
PUTIN
ACUADO E ISSO NÃO É BOM
Putin
é conhecido por sempre dobrar a aposta, ainda que não esteja disposto a dar o
"all in" (leia-se apertar o botão vermelho) agora. Com bases nas
ações que o mago das trevas tomou no passado é certo que ele buscará mostrar
força no cenário mundial....e de que forma?
Primeiro
colocando forte pressão pela manutenção de Assad com o discurso de única
possibilidade viável de controlar o avanço do isis na Síria e ao mesmo tempo
mantendo a ação militar na Rússia com a desculpa de combater o isis mas na verdade combater os rebeldes
que estão tentando derrubar o governo de Assad. Podemos ter alguma missão aérea
na região nesse sentido em breve
Em
segundo lugar continuar com o discurso de que o isis é um perigo na região e
seu avanço precisa ser controlado. Essa seria a narrativa que os russos fariam
logo apos o ataque do metro, mas não tiveram tempo pra isso devido a
precipitação dos acontecimentos. Ao retomar esse discurso Putin pode tomar
ações mais enérgicas sobre ex repúblicas russas e republicas separatistas com
forte presença islâmica. Tal ação ainda teria o efeito indireto de estimular o
discurso de xenofobia na Europa contra os muçulmanos. É uma ação que ele deve
realizar e uma investida no Iraque, nas zonas controladas pelo isis, também não
está descartada.
Por
fim acredito numa maior aproximação com a Venezuela e Coréia do Norte, em
especial a Venezuela que pode ser o próximo alvo americano dependendo de como
as coisas caminharem na OEA.
Veremos
nas próximas semanas até que ponto Trump está disposto a ir para conquistar a
confiança do Exército e serviços de inteligência americanos ou se o seu ego do
tamanho do Everest falará mais alto e ele voltará a tomar atitudes segundo sua
visão peculiar de mundo: que os EUA são o mundo, esse mundo é sua empresa, ele
é o CEO e militar nenhum tem que meter o bedelho no que ele decidir....por hora
ele mostrou algum juízo....por hora... aguardemos os próximos lances esperando
que uma pomba laranja não sobrevoe o tabuleiro de forma amalucada.
Xadrez
mundial texto II:
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Um comentário:
Caro José,
Perdoe-me esse comentário off-post, mas eu não sei aonde postar algo relativo a este assunto. De todas maneiras, me parece tratar-se também de um movimento no "xadrez espiritual", de menor relevância, mas de importância regional, especialmente para o Brasil e América do Sul.
Recentemente, um dos nossos vizinhos, o Peru, tem passado por diversos problemas, especialmente de ordem climática. Ocorreram enchentes que destruíram boa parte do país, e isso inclusive passou praticamente despercebido na mídia, tanto a oficial como a alternativa. Da mesma forma, os tentáculos do marxismo latino-americano também estão presentes lá, ainda que o país tenha uma postura liberal em termos de economia e política. Ocorre um processo judicial da Operação Lava-Jato por lá também, e um dos ex-presidentes do país, Alejandro Toledo, foi indiciado pela justiça peruana e recentemente encontra-se foragido. Isso ocorreu no inicio de fevereiro, e logo em seguida vieram as tormentas que destroçaram praticamente toda a região norte do país - área esta muito conhecida entre os peruanos por se tratar de um local aonde existem diversos feiticeiros.
Ainda há quem diga que Toledo está mantido nos EUA por motivos de força maior, e que o mesmo gostaria de voltar ao país para depor, mas que forças maiores o impedem de fazer isso. É preciso dizer que o Peru é um país altamente dependente de grandes potências asiáticas (China, Japão e Coreia do Sul). Muito se fala lá sobre a Máfia Fujimorista, relacionada ao ex-ditador Alberto Fujimori e seu clã que até hoje possui enorme influencia dentro da política interna, mesmo que Fujimori esteja preso.
Meu feeling diz que Toledo é uma peça importante para o entendimento do esquema de poder marxista latino-americano, e os eventos cataclísmicos ocorridos logo em seguida me deixam mais exclamado ainda. Porém, eu gostaria de uma segunda opinião, e este é o único local onde talvez alguém possa entender do que eu estou falando.
Grato pela atenção.
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