31 de ago. de 2022

A Entrevista (Parte II/Final) - Lula e Ciro

 


Após analisar as falácias trazidas pelo rei do gado na primeira parte dessa série de dois textos na qual analiso as entrevistas concedidas na plim plim pelos três principais candidatos nas pesquisas, decidi fazer um único post para compilar as falácias populistas do molusco e do cangaciro pois ambos focam em um ponto em comum pra tentar ganhar votos: a questão econômica. Justamente por isso temos uma excelente oportunidade pra entender as falácias e fantasias do plano econômico de governo construído pelo Ciro (que inevitavelmente dos três populistas ao menos possui um plano de governo) assim como a grande fantasia construída por Lula de que com ele os tempos de cerveja e picanha voltariam (na tentativa de fazer o povão esquecer as picardias antirepublicanas dele e da quadrilha vermelha desbaratadas pela LavaJato)

 

OS PRINCÍPIOS DA ECONOMIA 

O grande sonho de Ciro era ser o sucessor de Lula como líder da esquerda, porém tudo começou a azedar quando nas eleições de 2018 o então presidiário decidiu apoiar o poste Andrade como o candidato petista ao Planalto. Naquela época Ciro bradava contra a Lava Jato e inclusive sugeriu fugir com Lula para uma embaixada antes que ele fosse preso por conta das investigações. Magoado e rompido com Lula, Ciro decidiu ir para Paris no segundo turno daquelas eleições e não declarou apoio a nenhum dos candidatos. Agora nas eleições de 2022 Ciro tenta se vender como bastião da nova política, aquele que possui a solução política para pacificar o Brasil e a solução econômica para resolver os péssimos indicadores do país, sobretudo nos últimos 10 anos (tudo amplamente analisado na primeira parte desses dois posts).  

O problema é que apesar de apresentar um programa de governo, as soluções políticas e econômicas trazidas por Ciro (explicadas por alto na entrevista no JN e em maiores detalhes em recente entrevista no Flow) além de populistas são inviáveis. Politicamente são inviáveis, pois necessitam, como ele mesmo deixou claro, da construção de uma maioria no Congresso, algo que necessitaria de uma grande mobilização nacional, ainda maior que a ocorrida entre 2016 e 2018 pois como eu mesmo já expliquei aqui várias vezes não basta ter uma votação expressiva ou eleger vários deputados e governadores alinhados com o novo presidente, é fundamental uma mobilização constante contra a corrupção que fiscalize o Congresso, caso contrário não existe governabilidade, pois mesmo com novos nomes eleitos a base do Centrão, sobretudo seus caciques ainda permanece lá. O país está dividido e não surgiu um novo nome claramente sintonizado com o combate a corrupção e claramente antagônico ao bolsopetismo (aliás, até surgiu, mas obviamente que por ser odiado por petistas, boçalnaristas e boa parte da suprema corte além de praticamente todo o Centrão sua candidatura foi combatida e anulada). 

Portanto construir maioria no Congresso, unir amplo apoio popular no combate a corrupção ter um histórico claro contra a corrupção e em favor da LavaJato são premissas que nenhum dos três candidatos possuem. Sem isso, a maioria das reformas (tributária e política especialmente) fica inviável de serem realizadas. Acreditar que basta oferecer o fim da reeleição para passar isso nos primeiros seis meses é uma completa ilusão. 

Da mesma forma sem amplo apoio e engajamento popular não há como passar reformas fundamentais no sistema financeiro, especialmente para retirar o quase monopólio que o grupo pequeno de bancos tem na economia. Estimular maior concorrência no crédito, diminuir drasticamente os juros draconianos desproporcionais às taxas de juro (que já são altíssimas), diminuir o spread dos bancos, tudo isso depende de muito engajamento popular, pois a maioria dos políticos e grandes empresários ligados ao núcleo de poder lucram com esse sistema. Também é ingenuidade achar que taxar grandes fortunas pra dar mil reais de bolsa pras famílias vai resolver algo, alias essa é uma proposta bem populista que o Ciro sabe que não vai ajudar em nada a economia, alias vai apenas pressionar ainda mais a inflação. 

A economia real depende de geração de empregos, pois são eles que geram os bens e serviços que serão consumidos proporcionais ao dinheiro injetado na economia para o consumo e consequentemente a retirada de impostos das riquezas produzidas. A partir do momento que se estimula cada vez mais bolsa daquilo e bolsa daquilo outro você está apenas jogando dinheiro para o consumo, mas não está produzindo riqueza, ou seja, há uma massa humana que não produz mas pode consumir, o que encarece o preço dos bens e serviços (maior procura sem aumento da oferta) ao mesmo tempo que a injeção de dinheiro sem valor agregado à produtividade gera desvalorização do papel moeda o que também pressiona a inflação. Essa política desenvolvimentista foi tentada nos últimos dois anos do governo Lula e depois no governo Dilma, foi tentada na Argentina, foi tentada no governo Chavez e o resultado é sempre o mesmo: o desastre keynesiano que também foi utilizado no governo Bolsonaro especialmente ao longo de 2022. 

Estimular a construção de obras e desenvolvimento da indústria é certamente algo fundamental, mas não sem teto de gastos, senão caímos na mesma armadilha do milagre econômico: impressora produzindo dinheiro a rodo, uma rápida explosão de empregos e aparente riqueza da população, porém com um surto inflacionário incontrolável nos anos seguintes, especialmente se boa parte da economia mundial está atrelada ao dólar. Fortalecer a indústria passa essencialmente por manter a moeda forte e gerar um ambiente econômico menos burocrático e mais seguro (menos corrupção) para atrair investimentos e nenhum dos candidatos tem um plano claro sobre esse sentido, todos os três desejam seguir o mesmo caminho do “milagre econômico”: furar o teto de gastos, imprimir dinheiro a rodo e dar mais um voo de galinha. 

É inegável que precisamos de um plano de médio e longo prazo (próximos 10 e 30 anos), só que não estamos numa China que apesar de ser uma das economias de mercado mais capitalistas do mundo é politicamente um regime socialista nacionalista ultra fechado. Talvez pelo fato do partido chinês apoiar o seu partido há anos, Ciro acha que dá pra fazer algo parecido com aquilo que a China fez aqui no Brasil, mas isso é também um erro, pois sem apoio amplo popular não há como pressionar o Congresso por mudanças, inclusive através de plebiscitos que também dependem de aprovação do Congresso. 

Conquistar independência no refino do petróleo, aumentar a produtividade no campo, fortalecer o real, respeitar o teto de gastos, ter um plano focado no controle da inflação e combate a desemprego, fortalecer a legislação de combate a corrupção e simplificar as leis (especialmente para negócios e transações que envolvam empresas e geração de empregos), simplificar e diminuir impostos, aumentar a concorrência entre os bancos limitando o spread e as taxas de juros, tudo isso é fundamental e passa essencialmente por várias reformas que são difíceis de passar, especialmente enxugar altos salários no funcionalismo público (quem ganha acima de 20 mil reais), enxugar gastos com privilégios e penduricalhos e sobretudo estabelecer metas claras dos programas sociais para entrada e saída, pois definitivamente criar bolsa de mil reais para mais e mais famílias ad eternum vai afundar a economia e não resolver o problema principal que é gerar empregos e um ambiente econômico mais pujante e competitivo com o resto do mundo. Nenhum dos três candidatos tem propostas quanto a esses pontos e ainda que o Ciro tenha exposto algumas dessas questões há ainda muito populismo barato no programa econômico dele e ao mesmo tempo não há um caminho político claro e viável para fazer essas mudanças, especialmente no combate à corrupção. 

Aconselho fortemente que o leitor conheça um resumo das propostas e do histórico do Ciro nesse vídeo colocado pelo Nando Moura, definitivamente Ciro assim como Lula e Bolsonaro não são a solução política e econômica para os graves problemas que o Brasil vem enfrentando na última década.

Visualize o vídeo a seguir a partir do minuto 10:15

 


LULA E O MILAGRE ECONÔMICO 

No JN Lula contou as bravatas de sempre: que sofreu uma perseguição política da Lava Jato e que no seu governo o povo comia três vezes ao dia e que com ele voltando os tempos de bonança vão voltar. Esses dois pontos precisam ficar bem esclarecidos. O primeiro deles, a prisão por corrupção, aconteceu por sucessivas condenações em primeira e segunda instância confirmadas nas instâncias superiores (ou seja, não foi uma perseguição de Moro ou dos procuradores de Curitiba) que resultaram na prisão por quase dois anos não apenas de Lula, mas de vários políticos ligados ao governo petista e ao Centrão (mesmo núcleo que governa hoje com Bolsonaro) além do fato de que somente com um grande malabarismo na segunda turma do STF é que os processos de Lula acabaram prescrevendo, ou seja, ele não foi inocentado. Da mesma forma boa parte dos condenados pela Lava Jato estão, hoje, de mãos dadas com o governo Bolsonaro, como é o caso de Ciro Nogueira (ministro do primeiro escalão do boçal) e Valdemar Costa Neto condenado e presidente do partido de Bolsonaro. 

Já do ponto de vista econômico tem muita gente, inclusive no mercado, achando que o Lula vai adotar as mesmas medidas dos primeiros 6 anos de mandato quando ele seguiu em boa medida o tripé macroeconômico do plano real deixado pelo FHC (cambio flutuante sem disparar, meta de inflação e respeito ao teto fiscal) muito desses primeiros anos de mandato favorecidos pelo boom das comodities (China crescendo a 12% ao ano comprando tudo do Brasil) e ao mesmo tempo o dólar barato no mundo (estratégia americana para combater o crescimento chinês, pois o dólar barato favorecia as exportações americanas) ou seja, um cenário de paraíso pro Brasil no qual qualquer presidente teria colhido excelentes frutos de crescimento, ou seja, não foi qualquer plano do Lula ou do PT, mas sim um cenário exterior altamente favorável ao Brasil e ao mesmo tempo a manutenção de uma política macroeconômica do governo anterior (FHC) que controlava a inflação e gastos excessivos. 

Dinheiro entrando a rodo no país, suficiente pra quadrilha vermelha financiar vários programas populistas e aumentar a margem das propinas com empreiteiras e campeãs nacionais em negociatas sem fim. O povão tem essa lembrança afetiva desses anos de crescimento econômico do governo do molusco, mas a verdade é que isso só aconteceu pela situação internacional (China crescendo muito e dólar barato) ao mesmo tempo que ele seguiu o plano econômico (equilíbrio fiscal) deixado pelo governo do Real, mas isso tudo começou a degringolar nos últimos dois anos do governo do molusco, começou a faltar o dinheiro da China que importava menos, o dólar voltou a subir e a pressão de setores políticos acostumados com esquemas bilionários de corrupção que não podiam continuar se pagando vieram a tona ao mesmo tempo que a ala tradicional do petismo insistia por uma guinada mais desenvolvimentista (e desastrosa da economia) o que se somou a impossibilidade do petismo seguir com o projeto original de endurecimento ideológico depois da condenação do Dirceu (que seria o substituto de Lula) o que acabou levando Lula a botar uma pessoa sem traquejo político (Dilma) como sucessora. 

Aqueles últimos dois anos de governo Lula (que foram repetidos no mandato dilmistico) aconteceram em um ambiente muito melhor do ponto de vista fiscal e econômico do que agora, então tem muita gente do mercado e do povão sonhando com um novo governo Lula dos primeiros seis anos de mandato, mas levarão na verdade um governo ainda pior do que foram os últimos dois anos do governo Lula seguidos pelos anos apocalípticos do governo Dilma. A situação fiscal do país está um caos (furo de 200 bilhões no teto que ambos os candidatos populistas pretendem repetir caso eleitos), a situação econômica idem (alto desemprego, inflação alta, pib muito baixo e abaixo da media mundial há anos, ausência de reformas, excessiva burocracia, altos impostos e muita corrupção, tudo que afasta investidores do país e gera ainda mais pressão na economia, tudo isso resumido no primeiro texto sobre as entrevistas) e a situação política ainda pior (centrão corrupto dominando a aprovação de leis e em conluio com os dois candidatos populistas, STF contra a lava jato e nenhum interesse em uma reforma política). 

As promessas de Lula são, assim como as promessas de Bolsonaro uma grande ilusão: ambos (e também Ciro) prometem bolsas de 600, mil reais, prometem zerar a dívida dos pobres, prometem reduzir o imposto de renda, prometem um Brasil dos sonhos mas que na prática, economicamente e politicamente falando é inviável, pois os três querem furar o teto de gastos o que somente vai gerar mais inflação ao mesmo tempo que a política dominada pelas negociatas e propinas em conluio com o centrão vai tão somente afastar investidores, potencializar os gastos com privilégios (orçamento secreto bilionário, fundão eleitoral bilionário, cartão corporativo sem limites) criando ainda mais caos econômico onde as medidas populistas para conseguir votos (incentivos artificiais para favorecer determinados setores temporariamente e estourando o teto econômico) vão deixar o pais no mesmo cenário dos últimos 10 anos: baixo crescimento comparado ao resto do mundo e alto desemprego e com maior pressão inflacionária. 

A solução dos grandes problemas políticos e econômicos que afligem o Brasil passa necessariamente pela união da população contra a corrupção e contra os privilégios, pois sem essa cobrança firme (que aconteceu entre 2013 e 2018) a maioria corrupta de Brasília se sentirá a vontade para afanar cada vez mais o dinheiro do pagador de impostos. 

Somente com engajamento popular amplo, como ocorrido entre 2013 e 2018, pela mudança de leis que fortaleçam o combate a corrupção e fortaleçam a diminuição de privilégios assim como uma economia comprometida com o teto de gastos, geração de empregos, combate a inflação, diminuição da carga tributária, diminuição da burocracia, diminuição do custo do crédito, somente com tudo isso poderemos avançar em importantes reformas econômicas e políticas rompendo com a polarização ideológica de mentirinha onde nenhum dos lados está preocupado com ideologia, mas sim se vai ter acesso a dinheiro e cargos no governo que vier, seja do lado da situação ou da oposição. As pessoas precisam compreender isso, que não existe salvador da pátria, não existem seres de luz que farão o trabalho por nós, nós é que precisamos trabalhar em parceria com eles, pois de nada adianta eles ajudarem a criar situações que impulsionem mudança (como aconteceu entre 2013 e 2018) e depois as pessoas voltarem, em grande número, à idolatria política esquecendo-se da verdadeira luta contra a corrupção e os privilégios. 

A primeira parte dessa série de dois textos sobre as entrevistas dos três candidatos populistas pode ser acessada no link a seguir:

https://profeciasoapiceem2036.blogspot.com/2022/08/a-entrevista-parte-i-bolsonaro.html


Um comentário:

srtaBel@ disse...

Boa tarde, José Maria! Gosto muito das suas previsões. Queria saber uma coisa: você faz mapa astral pessoal? Perguntei no Messenger, mas parece que você não tem.